sábado, 12 de agosto de 2017

E o Sentido?

Procuro-te,
Mas não te encontro.

Pergunto-me,
Será que vale a pena?
Será que existes verdadeiramente?

E quando desistir, porque
Está destinado a acontecer,
É aí que te descobrirei?

...

Até agora, a existência
Apenas me revelou o absurdo
De si mesma.

Eu reconheço o absurdo, reconheço
Os paradoxos da nossa condição, mas
É nesse reconhecimento que se encontra
O poço de um desespero e impotência.

Viver no absurdo, viver
Entre o eterno e o vazio, é sofrer.
Eu reconheço isto.
Eu reconheço que isto é a vida, a nossa existência.
Perceciono isto, por vezes, como uma brincadeira de criança,
Que cria uma história no seu quarto, quando tira os
Bonecos do baú; dá-lhes vida e um aparente propósito,
Para passado um bocado os colocar de volta
No baú que é o vazio.
Por vezes penso isso, que
Nós somos como os brinquedos que são
Retirados do vazio do universo; é-nos dada
Vida e um aparente propósito, apenas para nos
Porem dentro do negro baú do vazio novamente.
A diferença entre nós e os bonecos está na
Consciência de que somos donos.
Com esta consciência podemos questionar os aparentes
Sentidos que nos dão, ou nos aparentam; podemos questionar,
No fundo, a vida que nos foi dada,
E, tendo uma escolha, podemos tomar qualquer decisão -
Rejeitar todos os sentidos ilusórios, rejeitar a própria vida,
E decidir viver naquilo que para nós é absurdo, ou acabar com
A brincadeira.

...

Nota: Acho que isto é fruto de um Camus reencarnado em mim, depois de ter lido os primeiros ensaios do livro "O Mito de Sísifo" desse existencialista.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Nota rápida

Só uma nota rápida. Estive parado aqui no blog porque, como sabem, estava a usar os dados móveis para aceder à net e não me apercebi que sempre que partilhava os dados com o meu pc, este gastava e gastava... com atualizações de antivírus e coisas assim em background imagino eu. Como estava a dizer, quando me apercebi ele tinha-me drenado os dados praticamente todos e entrei num modo de poupança extrema dos últimos megabytes. Mas agora já voltei de novo para a minha normal civilização e espero retornar com os posts com a regularidade do costume.

Hoje não vou publicar mais nada, até porque estou cansadinho da viagem, mas posso adiantar-vos que acabei hoje o livro do Wallace, “The Broom of the System”, e tenho que dizer que achei um excelente livro, apesar de ter sido escrito por um Wallace ainda bem jovem de 20 e poucos. Estou preparado para fazer uma espécie de comentário ao livro e aos temas desenvolvidos no mesmo, mas será daqui a uns dias provavelmente. É um livro onde muito se passa, e, claro, temos de ter em atenção, escrito por um jovem a experimentar a escrita de ficção (uma ficção com grande teor ensaístico e reflexivo, deva-se dizer), um livro cheio de pequenos pormenores que divertem um jovem estudante de filosofia e os seus pares, uma escrita por vezes demasiado intelectual e trabalhada (porque o tema, motivo da história e lugar reflexivo em geral assim o exige também), um jovem que, enfim, quer espantar, impressionar, os seus pares, colegas, professores, círculos intelectuais de escrita, enfim, todas essas coisas. Mas bem, fico-me por aqui, depois faço o tal post sobre a minha opinião mais detalhada.

Nota: Tinha escrito isto ontem à noite (ou hoje de madrugada, já não sei), mas não me foi possível publicar nessa altura.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Sobre a linguagem (outro) II

Vou só comentar pequenas coisas relativamente ao último comentário de Abraão sobre os 2 últimos posts. Abraão disse-me que o texto não era dos melhores que já tinha escrito; eu estava ciente disso. Estava ciente de que, passando eu e ele por um período de um inacesso de inspiração, esse post foi escrito por Abraão com pouco cuidado e rigor; o que ele confirmou como sabem. Estava bem ciente, mas, devido ao período fracamente inspirador, e depois de ter lido o tal post de Abraão, apeteceu-me comentá-lo sem grandes medidas, e divagar um bocado sobre aspectos da linguagem, uma vez que o post estava intimamente relacionado com o tema.

Agora, sobre a parte que eu negligenciei um pouco no meu comentário, acerca da crítica de género e o seu uso (do género) na nossa linguagem, e que eu bem sei que é um tema que Abraão tem em grande consideração, sobre isto apenas referi que era igual o uso de deus ou deusa, e que tendíamos a usar deus porque o masculino tende a ser usado em casos não familiares bla bla bla qualquer coisa assim. No entanto não me tinha apercebido que, enquanto substantivo, não podíamos usar a palavra omnipotente no feminino. Por exemplo, "A omnipotente é bondosa" estará errado, de acordo com o dicionário. Agora se dissermos, "A omnipotente nave é bela" é correto, pois estamos a usá-lo como adjetivo. Acho que era isto que Abraão queria criticar. A forma como as raízes da problemática do género são profundas ao ponto do dicionário não aceitar que esta palavra seja usada no feminino enquanto substantivo. Nada contra a crítica, admito que não me tinha apercebido disto.

Depois Abraão refila porque eu digo que ele está-se a afastar do contexto linguístico, quando diz "porque não apenas um ser superior?" quando se refere a usar deus como definição de omnipotente. Queria apenas clarificar que, dizer "ser superior" não é o mesmo que dizer deus (ou deusa) porque "ser superior" implica um determinado grau de relatividade, enquanto que, no contexto linguístico, isto é, na definição de uma palavra como omnipotente (relembrando, significa "todo poderoso") não pode existir nenhum grau de relatividade, pois é algo absoluto. Definir omnipotente como "ser superior" é muito incorreto, porque não revela o absolutismo que a palavra necessita, coisa que "deus" revela, e por isso é aceite como definição.

Só mais uma questão que Abraão falou sobre algo que eu disse, "Também já me estou quase a perder", e que ele respondeu que ele não se tinha perdido... Essa frase não era para ser lida dessa forma. Não era minha intenção insinuar que o leitor do meu texto se estava a perder, ou ainda que o autor do texto que eu estava (mais ou menos) a criticar se tinha perdido ele próprio. Nada disso. Mas agora vejo que pode ser visto dessa forma. Olhem, no entanto, para essa pequena afirmação como uma espécie de self referencing piece of writing; um pedaço de "meta-escrita" para o meu consciente/inconsciente ou ainda para o meu "eu que escreve/eu que lê". Quero eu dizer com isto que, enquanto o meu "eu que escreve" escrevia o texto, o meu "eu que lê" lia-o; e o meu "eu que lê" afirmou que se estava a começar a perder, ao que o meu "eu que escreve" respondeu, da maneira que lhe é própria - isto é, por escrito - que ele também se estava quase a perder também. E é esta a história dessa frase. Se calhar agora é que ficámos todos perdidos, não foi?

Queria ainda escrever sobre o enigma que Abraão deixou, mas tenho de admitir que não estou dentro daquele jogo de palavras, de forma nenhuma... Vou apenas assumir que a caneta a que ele se refere é a "caneta" que ambos conhecemos (e que o leitor me vai desculpar, mas que não vou explicar o que é), e que essa "caneta" e as ações que eu realizo com ela (o mistério para o leitor aqui torna-se ainda mais misterioso decerto ☺) me fazem rabiscar erros por me corroer o ser - a minha entidade, portanto - e que esses erros são letais - de morte - e todos poderosos - deus - ou qualquer coisa assim?? Um enigma bastante enigmático, tão enigmático que acho que acabei por dizer só parvoíces sobre ele.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Comentários sobre os últimos 2 posts deste blog #15

Em jeito de resposta em relação ao meu último post (e o dele também), Abraão escreveu mais um texto aqui para o blog. Não sei se irei comentar este novo texto, mas devo escrever qualquer coisa amanhã ou assim, nem que seja para interpretar o enigmático conjunto de palavras que Abraão me deixou.

...

Não estava a pensar escrever aqui tão depressa, mas, por razões cívicas, vejo-me obrigado a escrever algumas notas sobre os últimos dois posts.

O Kinch decidiu fazer um exercício que, digamos, é bastante interessante. No entanto, cometeu alguns erros, ou pelo menos a mim parecem-me erros.

Analisar um texto em termos filosóficos é um exercício incomum mas que beneficia tanto quem o faz, como quem tem a oportunidade de analisar tal exercício. Mas existem vários elementos que compõem este exercício: o texto a ser criticado, a teoria a ser utilizada e o crítico. Penso que estes sejam os principais elementos.

Vamos então analisar o texto a ser criticado. Esse texto, que por coincidência é da minha autoria e que por isso contamina tudo o que está a ser escrito, foi um texto escrito apenas para, usando as palavras do Kinch, «quebrar aqui este nosso hiato». Não foi um texto escrito com grande ponderação nem com grandes esforços filosóficos. Acabou por ser um texto com algumas opiniões descritas sem rigor, e por isso, com erros.

Esta é apenas uma crítica que faço à crítica, não apontando como um erro. Utilizar um certo rigor filosófico para criticar um texto escrito sem intenção de ser rigoroso é pouco correto. Claro que esta é apenas a minha opinião. 

Vamos então aos erros. Um erro que é possível observar sobre toda a crítica é também um erro comum de se encontrar na nossa sociedade. O Kinch olhou para o meu texto com os seus olhos simplesmente, sem observar críticas implícitas e lendo o que quis da forma que quis. Isto encontra-se exemplificado na frase «Bem, acho que Abraão já se está a desviar extremamente do contexto linguístico.» Porque é que eu tinha apenas de me cingir ao «contexto linguístico»? Quanto à frase «Já me estou quase a perder também. »: eu não me perdi...

Um exemplo claro é a sua ponderação sobre a definição de omnipotente. Segundo o dicionário priberam, a palavra omnipotente ou é um adjetivo de dois géneros ou um substantivo masculino. E aqui o Kinch passou totalmente ao lado da crítica que eu quis fazer. Conhecendo a minha opinião sobre o género na língua portuguesa, e sabendo a minha opinião sobre a religião em geral, devia ter percebido a crítica. Eu não digo que este pormenor não seja uma idiossincrasia ou um sintomastismo da língua. Mas são exatamente este tipo de idiossincrasias e sintomismos que eu critico no post.

Depois o Kinch começou a tecer sobre a sua teoria. Algumas coisas não me parecem corretas mas, como não não conheço a teoria, também não me vou debruçar sobre o assunto.

Quanto aos potenciais paradoxos... Essa ideia até é interessante. Mas isso é o mesmo que dizer que se os EUA começarem a fabricar mais armas nucleares, tal não é um problema, mas sim um potencial problema... Ou seja, chamar-lhe paradoxo ou potencial paradoxo...

Depois Kinch fez mais umas quantas considerações. Algumas muito interessantes... Outras que me parecem contraditórias. Mas mais uma vez não me vou debruçar sobre o assunto...

Continuando a crítica de Kinch. «Revela inocência pensar que a linguagem tem um cariz universal, ou que todas as palavras têm de significar o mesmo para todas as pessoas.»... Se a linguagem foi criada como artifício para comunicar, como é que é suposto comunicarmos se diferentes pessoas têm diferentes significados para a mesma palavra? 

O objetivo de ter dicionários é sabermos a definição de uma palavra. A definição cultural dessa palavra. Cada um é livre de usar as palavras como quer, mas isso não elimina a definição cultural das palavras. Claro, podemos jogar com contextos e definições. Também existem as palavras de significados ambíguos ou dúbios... Mas vamos ser sinceros, sem sistematização não chegamos a lado nenhum.

Mas Kinch, a ti, adepto da liberdade linguística, desafio a interpretar a seguinte mensagem de amizade que deixo: Caneta de entidade rabiscar erros deus de do morte...

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Sobre a linguagem (outro)

Pegando um pouco no assunto que o Abraão trouxe no post anterior, deixem-me só referir umas quantas coisas. Primeiro, aquelas questões que Abraão levantou sobre a definição de omnipotente significar deus, como: então não pode ser deusa?, ou não pode ser um ser maléfico?, ou não pode ser um ser superior?, essas perguntas não me parecem ter sentido, porque temos de olhar para essa definição no contexto que lhe é próprio. A de ser deus ou deusa é trivial; deus ou deusa é igual, e, como é idiossincrático da nossa língua, tendemos a usar o masculino em situações não familiares. Por exemplo, quando nos referimos a um cão na rua, usamos (quase todos nós pelo menos) a palavra cão, e não cadela. É algo sintomático da linguagem, não me parece ser relevante para o caso. Depois se pode ou não ser um ser maléfico – porque não? Nada na palavra deus ou outros equivalentes indicam sobre a malvadez ou bondade de quem se refere. Nada se refere contra haver deuses bons ou maus. Ser deus não indica necessariamente uma personalidade bondosa ou malvada. Pode ser malvado sim, como pode não ser. Acho que temos de ter isso em conta. Agora o de não poder ser um ser superior. Bem, acho que Abraão já se está a desviar extremamente do contexto linguístico. Estávamos na definição de omnipotente, que um dicionário diz significar deus. Ora, neste contexto, temos de ter em atenção que omnipotente, tal como a palavra indica, e sem precisar de grandes análises, significa na sua forma mais simples e literal todo (omni-) potente, ou, numa forma mais familiar, todo poderoso (porque podemos usá-los como sinónimos ou até podemos definir um pelo o outro se a quem estivermos a explicar seja compreensível dessa forma). Já me estou quase a perder também. Portanto, dizer que deus significa omnipotente, ou vice-versa, é em si uma definição se, a quem estivermos a explicar, passemos este mesmo significado, isto é, o “todo poderoso”. Tal como deus é definido por um ser todo poderoso, omnipotente é definido como a qualidade do todo poderoso, assim omnipotente pode ser definido por deus, desde que faça sentido no contexto em que é usado.

A seguir Abraão refere-se à primeira definição dada pelo dicionário que diz que omnipotente significa que pode tudo – o mesmo que todo poderoso, portanto. E passa a enunciar mais umas quantas questões sobre se a dona maria, como ele chama ao deus bíblico (o deus cristão suponho) pode ser maléfica, se pode destruir a humanidade, enfim, e por aí fora. Pela qualidade de omnipotente, esta dona maria pode fazer todas essas coisas. Isto é, tem esse potencial. Nada significa que realize todo esse potencial, tal como nós temos o potencial de jogar no euromilhões e sairmos vencedores, o que não signifique que isso vá acontecer. E eu sei que algumas questões parecem levantar paradoxos – se ela pode tudo, pode então levantar toda e qualquer coisa, então como pode criar algo que não possa levantar? Mas bem, como já disse, ela tem o potencial para criar algo desse género, mas temos de perceber que se ela o fizesse, para evitar o paradoxo, perdia a qualidade de omnipotência. O que à primeira vista parece um paradoxo, é na realidade um potencial paradoxo. Com a língua podemos divagar, disparatar, manipular palavras e sentidos a nosso belo prazer. É algo intrínseco à linguagem. A linguagem é (e eu sei que vou revelar alguma influência wittgensteiniana, mas já deviam estar à espera), como nós a conhecemos, um artifício criado por nós para nos ajudar a comunicar e não o contrário. Pode ser vista, a linguagem, como um jogo de cariz social, em que as regras são, tal como nós, orgânicas, e dependentes de grupo social para grupo social. O contexto é um objeto em que a linguagem é usada enquanto função para o grupo. Contexto neste caso engloba a situação concreta, para além dos membros do grupo e suas qualidades, atributos e toda a história individual (isto é, de cada membro) e coletiva. Tudo isto para dizer que, a linguagem enquanto função é melhor percecionada e compreendida por grupos com maior afinidade entre os seus membros. Usar a frase: “deus é omnipotente” entre um grupo de, por exemplo, religiosos cristãos, tem um significado para eles, que pode significar por exemplo – deus é todo poderoso; deus tem um poder ilimitado, portanto incompreensível; o poder de deus é incompreensível no sentido em que apenas nos é possível idealizar deus com um poder total dentro dos parâmetros do real que nós conhecemos – logo, alguém vir dizer a este grupo de religiosos cristãos que a afirmação “deus é omnipotente” é ridícula, de cariz paradoxal, ou que não tem rigor linguístico, não tem sentido dentro deste grupo específico, pois a palavra omnipotente tem a função que já referi anteriormente para este grupo. 

Revela inocência pensar que a linguagem tem um cariz universal, ou que todas as palavras têm de significar o mesmo para todas as pessoas. Uma palavra não é nada mais do que um sinal de algo; um marcador dum objeto, seja ele concreto ou abstrato. E a linguagem é idiossincrática, tal como nós, e apenas tem o sentido que nós lhe quisermos dar, independentemente de definições de outrem. A linguagem não é lógica ou transversalmente significativa. Não significa nada para além de si própria. É apenas uma função para facilitar a compreensão. Uma única forma de linguagem não é solução para o entendimento de todo e qualquer grupo de pessoas. Dizer que deus é omnipotente serve para passar o significado pretendido dentro do grupo de religiosos cristãos (continuando com o exemplo anterior) e ficam-se por aí. 

É claro que escrutinar estes significados e analisar de uma forma mais fria e distante uma forma de linguagem usada por um grupo específico levanta questões que podem parecer não fazer sentido, serem paradoxais ou ridículas, quando na verdade o sentido e significado da linguagem existe apenas dentro do grupo. Mas não deixa de ser divertido, eu admito isso, e Abraão é sem dúvida adepto do escrutínio linguístico, mas é um adepto demasiado fervoroso por vezes, e ele sabe. 

Bem, vou ficar por aqui que isto já foi muita linguística por hoje.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Sobre a semântica da omnipotência #14

Abraão vem quebrar aqui este nosso hiato (só de 5 dias, mas como sabem estou de férias, é algo superior a mim...) de posts para nos trazer, a meu ver, mais um assunto que cheira mesmo a Wittgenstein. Mas é claro, eu ultimamente tenho sentido Wittgenstein em todo o lado, por isso sou suspeito. Mas vou deixar-vos para ler o texto do nosso Abraão, e acho que amanhã, ou se calhar ainda hoje, vou-me inspirar nestas palavras e continuar esta pequena discussão semântica, linguística, religiosa, filosófica, wittgensteiniana, o que quer que lhe queiram chamar.

...

Vamos hoje então pensar sobre a omnipotência. Mais precisamente da de um suposto deus bíblico que, apesar de não ter género, é sempre referido no masculino. Para não estar sempre a chamar o dito de «um suposto deus bíblico», vamos chamar-lhe Dona Maria.

Vamos então considerar que a Dona Maria é omnipotente, sendo que a definição de omnipotência, segundo o priberam, 1. Que pode tudo; que tem poderes ilimitados, 2. Deus. Comecemos então pelo ponto 2.

Se a definição de omnipotente é deus, significa que não pode ser uma deusa? Significa que não pode ser um ser maléfico? Significa que não pode ser apenas um ser superior? Eu não sei quem cria estas definições, mas eu vou ignorar este ponto por achar demasiado incompetente. E desnecessária.

Avancemos então para o recuo. Aqui é que nos divertimos, ou pelo menos aqui é que alguns de nós têm a oportunidade de o fazer. Se a Dona Maria pode tudo, poderá criar uma pedra tão grande que nem ela mesmo possa levantar? Pode ela ser maléfica? Pode ela destruir toda a humanidade sem querer? Pode então nascer daqui a meia hora? Pode morrer? Pode dar uma visualização neste blog?

Haverá de haver quem proteste por estas perguntas serem ocas, sem importância e serem apenas acidentes linguísticos. Não concordo com nada disso, mas temos de ser sinceros: estas perguntas não colocam de forma alguma em causa a existência da Dona Maria. Mas temos de pensar mais seriamente sobre as definições que damos às coisas e as qualidades que lhes atribuímos. Dizer que a Dona Maria é omnipotente é, além de um alvo de perguntas como as anteriores, um paradoxo. Podendo tudo, pode até nem ser omnipotente... E se pode não ser omnipotente, não tem forma de poder não ser... Logo terá de ser... Logo a igreja vai aproveitar para sacar dinheiro aos fiéis, seja em formato de dízimo, seja em formato de velas em formato de órgãos...

Muito podia eu continuar aqui a divagar sobre a falta de rigor linguístico do clero, mas não o vou fazer. Pelo menos para já...

Abraão Esteves

quinta-feira, 27 de julho de 2017

I. O Enterro dos Mortos

Abril é o mês mais cruel, criando
Lilases da terra morta, misturando
Memória e desejo, instigando
Raízes ressequidas com água da chuva.
O inverno manteve-nos quentes, tapando
A terra com neve cheia de esquecimento, alimentando
Um pouco de vida com tubérculos secos.
O verão surpreendeu-nos, chegando do Starnbergersee
Com uma cortina de chuva; parámos na colunata,
E fomos de encontro à luz do sol, entrando no Hofgarten,
E bebemos café, e falámos por uma hora.
Bin gar Keine Russin, stamm’ aus Litauen, echt deutsch.
E quando éramos crianças, quando estávamos na casa do arquiduque,
Do meu primo, ele levou-me num trenó,
E eu estava assustada. Ele disse, Marie,
Marie, segura-te bem. E lá fomos nós por ali abaixo.
Nas montanhas, aí sentes-te seguro,
Eu leio, grande parte da noite, e vou para sul no inverno.

Que raízes são que apertam, que ramos crescem
Deste entulho pedroso? Filho do homem,
Tu não podes dizer, ou adivinhar, pois só conheces
Um monte de imagens desconexas, onde o sol bate,
E a árvore morta não dá nenhum abrigo, o grilo nenhum alívio,
E a rocha seca nenhum som de água. Só
Existe sombra debaixo desta rocha vermelha,
(Vem para debaixo da sombra desta rocha vermelha),
E irei mostrar-te algo diferente de um destes,
Ou a tua sombra pela manhã caminhando atrás de ti
Ou a tua sombra pela tarde ascendendo para te encontrar;
Irei mostrar-te medo numa mão cheia de pó.

Frisch weht der Wind
Der Heimat zu,
Mein Irisch Kind,
Wo weilest du?

“Tu deste-me primeiro jacintos há um ano atrás;
“Eles chamavam-me a rapariga dos jacintos.”
– No entanto, quando voltamos, tarde, do jardim dos Jacintos,
Os teus braços cheios, e o teu cabelo molhado, eu não conseguia
Falar, e os meus olhos falhavam-me, eu não estava nem
Vivo ou morto, e eu não sabia nada,
Ao olhar para o coração da luz, o silêncio.

Od’ und ler das Meer.

Madame Sosostris, famosa clarividente,
Teve uma constipação do pior, todavia
É conhecida como sendo a mulher mais sábia na Europa,
Com um baralho de cartas tramado. Aqui, disse ela,
Está a sua carta, o Marinheiro Felício afogado,
(Aquelas são pérolas que foram os seus olhos. Veja!)
Aqui está a Belladonna, a Senhora das Rochas,
A senhora das situações.
Aqui está o homem das três varas, e aqui a Roda,
E aqui está o mercante de um só olho, e esta carta,
Que está branca, é algo que ele carrega nas suas costas,
Que estou proibida de ver. Não encontro
O Homem Enforcado. Tema a morte por água.
Vejo multidões de pessoas, andando às voltas num anel.
Obrigada. Se vir a querida Sra. Equitone,
Diga-lhe que eu própria levo o horóscopo:
Há que ser cuidadoso nos tempos que correm.

Cidade Irreal,
Sob a névoa castanha de um amanhecer do inverno,
Uma multidão fluiu sobre a Ponte de Londres, tantos,
Não tinha pensado que a morte tinha desfeito tantos.
Suspiros, curtos e infrequentes, eram exalados,
E cada homem fixava os seus olhos perante os seus pés.
Fluíram subindo pela encosta e descendo pela Rua King William,
Até onde a Santa Mary Woolnoth mantinha as horas
Com um som morto na badalada final das nove.
Aí vi um que conhecia, e parei-o, gritando: “Stetson!
“Tu que estiveste comigo nos navios em Mylae!
“Aquele morto que plantaste o ano passado no teu jardim,
“Já começou a brotar? Será que vai florir este ano?
“Ou a geada repentina perturbou a sua cama?
“Ó mantém o Cão longe daqui, esse é amigo para o homem,
“Ou com as suas unhas ele vai desenterrá-lo de novo!
“Tu! hypocrite lecteur! – mon semblable, – mon frère!”

[Tradução mais ou menos liberal da primeira parte do poema de T. S. Eliot "The Waste Land". O poema em si não tem um esquema rimático, mas apenas no princípio Eliot começa com umas quantas rimas que achei que fazia sentido mantê-las e por isso fiz o esforço. De resto, não traduzi no poema as partes em línguas diferentes do inglês porque penso fazer parte do esforço do escritor de criar algum desconforto e confusão no leitor ao ler o poema (atentem no último verso se não acreditam em mim). Também há uma parte em alemão que é literalmente copiada pelo Eliot da versão para ópera que Wagner escreveu e compôs da história de Tristão e Isolda (refiro-me às partes que estão em itálico) que se traduzem mais ou menos para: Fresco sopra o vento/ Para a pátria,/ Meu filho irlandês,/ Por onde andas?, e a última: O mar deserto e vazio. No início à ainda referências a dois sítios em Munique, o Starnbergersee - um lago, e o Hofgarten - um jardim. Logo a seguir o sujeito fala em alemão, dizendo mais ou menos o seguinte: Não sou russa, venho da Lituânia, verdadeira alemã (basicamente a dizer que é uma alemã pura, não deve gostar de ser confundida com russos apesar de vir da Lituânia). Também antes do final, na parte em que um homem se dirige a um outro, ele diz que o conhece de Mylae - isto é um porto algures em Itália. Ainda mesmo no final apanhamos um bocado de francês, e que é outra cópia, desta vez copiado de um verso dum poema de Baudelaire. Basicamente diz: - meu semelhante, - meu irmão! (e antes ainda diz que o leitor, portanto nós, somos hipócritas). Pronto, acho que de estrangeiradas é isso. Depois é claro, este poema não é fácil de apanhar todos os pormenores e se quiserem compreendê-lo bem devem ir procurar aí pela net algumas cenas. Eu nem tinha ideia de traduzir isto tudo, comecei pela quarta parte porque era a mais pequena e a mais simples, mas achei que seria um exercício muito interessante e profundo traduzir o resto. Vou tentar pelo menos. Aqui nesta primeira parte as coisas parecem estar assim um bocado confusas (penso que foi feito de propósito pelo Eliot) e se repararem existem 4 situações distintas, que estão mais ou menos separadas por uns espaços (na segunda secção desta parte temos os tais versos da ópera composta por Wagner que servem de interlúdio e conclusão a esta pequena secção). Bem, mas também não me vou alongar mais, é um poema bastante rico, isso podemos ver, não é? Não sei quando hei-de traduzir a segunda parte, mas estará para breve. Espero que gostem claro, senão gostarem digam.]

Atualização: Foi-me chamado à atenção, através de Abraão, alguns erros que tinha por aí no poema. Ele também me deu sugestões e, portanto, corrigi os erros e alterei uma ou outra coisa para ficar mais fiel ao original. Depois revi tudo de novo e encontrei mais uns erros pontuais. Espero que esteja melhor agora. Se alguém vir mais alguma coisa que não faça sentido (é porque provavelmente é um erro), ou quiser dizer algo sobre o poema, não hesite em deixar um comentário.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Férias

Pequena nota: encontro-me neste momento de férias e não estou na minha casa habitual. Net aqui só mesmo a dos dados móveis, que tento racionar. Por isso não estranhem se os posts forem menos regulares. Vou ficar assim pelo menos umas 2 semanas. De qualquer das formas sempre que me for possível tento fazer os posts. O de hoje será só isto, porque estou cansado e não me apetece pensar em mais nada. Aproveito para desejar boas férias a quem as esteja a ter.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Wittgenstein outra vez?

Se eu não fosse quem fosse diria que Wittgenstein anda a perseguir-me. Coincidência das coincidências, no livro que ando a ler de David Foster Wallace, "The Broom of the System", Wittgenstein tem uma presença assustadoramente forte. Digo assustadoramente porque foi só há pouco tempo que mergulhei nos escritos e teorias linguísticas deste homem e, talvez por me rever nele ou me identificar de alguma forma nas posições que ele tem em relação à linguagem (posições, diga-se de passagem, tal como acho que já referi nalgum post mais antigo, que foram contrárias durante a sua vida, referindo-me aqui mais à posição final que ele tomou sobre o assunto, descartando a inicial; procurem por aí que acho que já escrevi sobre isso), sinta que a presença dele é maior do que aquela que realmente é.

Mas, conhecendo relativamente bem o autor deste livro, David Foster Wallace, não me espanta que ele se interessasse por filosofias da linguagem e afins. Logo, o facto de ele usar as teorias de Wittgenstein e o seu nome pelo meio desta obra de ficção não é, a bem dizer, algo que me estranhe muito.

Ainda não cheguei a meio do livro, mas o que de importante está a acontecer, e que me parece ser um dos pontos essenciais da história, é o facto da bisavó da protagonista (que por acaso partilham o mesmo nome, deve ser interessante o porquê) ter desaparecido do lar onde se encontrava. Sabemos que ela e a sua bisneta se davam muito bem, até demasiado bem, algumas pessoas diriam, e sabemos também que esta bisavó teve aulas com Wittgenstein no tempo em que ele palestrava sobre a sua teoria final da linguagem. Sabemos também que ela é muito inteligente e astuta, e que ficou totalmente ensopada com os ensinamentos do seu professor Wittgenstein. Bem acho melhor não dizer mais, porque não sei se alguém vai ler e assim não se estraga mais a história. 

O livro está a ser bastante engraçado e satisfatório. Este David Foster Wallace sabia mesmo escrever. De vez em quando tem umas partes mais chatas ou assim, mas que de alguma forma estão ligadas à história e, se estivermos com atenção, relembramo-nos e dão-se pequenos cliques na nossa cabeça. Outra coisa que ele sabia fazer era diálogos. Excelentes mesmo. Vão ler se puderem, eu quando acabar dou uma nota final.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Era uma vez Abraão e a Numerologia... #13

O nosso colaborador fez mais um post, desta vez sobre um tema algo místico ou qualquer coisa assim parecida. Mas agora ficam a saber um bocadinho mais sobre ele, já que temos aqui um perfil de personalidade bastante completo. Posso dizer que muitas das coisas foram em cheio mesmo. Fiquei espantado com esta arte (?). E o Abraão ainda me há de dizer qual é o seu problema com o post de dia 19... (só vou dizer isto: ele tem fobia às redundâncias e afins, para além de, como a numerologia confirma, ter um problema em não aceitar incoerências.)

...

Todos nós deveríamos estar num caminho de aprendizagem sobre o nosso eu. Pelo menos assim penso. Por isso mesmo, tento introduzir-me a mim mesmo das mais variadas formas. Ora, porque não tentar a numerologia? Haverá de ser interessante... Já tantas pessoas o tentaram (e por isso se sustenta) por isso haverá de ter a sua piada. Tanta gente que já recorreu à numerologia, como eu, e, quem sabe?, se não haverei de me divertir mais do que essa gente, por saber ao que vou?

Comecemos pelo início. Preciso de uma fonte. Não vou fazer eu as contas! Pesquisa rápida no Google: numerologia. Vejo os sites. http://www.numerologiadonome.com/ parece-me o mais fiável para esta procura interior. Nome? Abraão Esteves, nunca seu criado, ao seu dispor quando me apetecer e se me apetecer.

Acabado assim o começo (sim, porque um começo tem um começo e um fim...) avancemos para os resultados. Para isso dirijo-me à secção «Resultados do calculo para o nome». Não ignoro o erro. Passo à frente a introdução que deve ser feita antes do ato, e não quando o ato já está consumado. Além disso vi «vibrações harmônicas» e por receio ou por memória, acho melhor não ler o resto. Primeiro resultado: três elementos retirados do meu nome: Ambição, Personalidade e Expressão. Ora, eu estou aqui porque ambicionei chegar a um lado para melhor conhecer a minha personalidade para agora me expressar aqui. Estamos num bom caminho.

O meu número de ambição é o 6. Segundo este site isso significa «Lutar pelo amor, família e o lar. Adora ter harmonia e beleza em torno de si.». Abraão realmente lutou pela família. Talvez não de uma forma aconselhável... Então estou no mundo para lutar pelo amor, família e o lar... Se fosse por lutar pelo amor próprio e colocar a família num lar, talvez estivesse mais próximo. Acho eu... Mas afinal o especialista aqui não sou eu. Gostaria de saber era a percentagem de pessoas que não gosta de ter beleza em torno de si... Só na minha residência conto mais de 8 espelhos de grande dimensão...

O número de personalidade é o 1. «Dinâmica, independente, original, criativa e muito trabalhadora. Demonstra coragem, liderança, decisão e desejo de poder.». Podiam mostrar todas as opções de personalidade. Eu consigo ver todas as opções da varinha que me foi atribuída no Potter More... E é estranho como acho que a varinha consegue ser mais pessoal do que a minha personalidade. A bem dizer, nem todos a podem ter, mas quanta gente achará que condiz com a sua personalidade só porque não condiz?

Avancemos então para a expressão. Número 7. «'Vendo' através das coisas, capaz de chegar a uma realidade espiritual e não se adaptar facilmente ao corre-corre do mundo moderno. Deve escolher com bastante cuidado pessoas amigas e amantes, sem exigir perfeição, pois poderá ficar sozinho.» Corre-corre é uma expressão engraçada. Bem, eu demiti-me das minhas funções semanais. Terei me demitido devido ao corre-corre deste blog moderno? E até ser possível a clonagem em condições, não irei exigir a perfeição a mais ninguém! Logo isso não é um problema.

O número do meu nome também é o 7. «Aparentemente fria e calculista a pessoa de personalidade 7 é na verdade super exigente com ela mesma e com o próximo. Procura sempre executar suas tarefas de forma impecável. Geralmente solitária, ela se isola e precisa de muito tempo para realmente se entregar a qualquer tipo de relacionamento pois prefere este isolamento.». Acho que tenho estado a ler mal... Acho que tenho lido tudo, quando da verdade só se deve ler o que se quer ler. Não é assim? Calculista? Vou ler antes «de uma inteligência superior». Super exigente? Bem... Se não me demiti por completo das minhas funções após o post de dia 19, acho que irei sobreviver bem. O resto passa-se à frente.

Aspetos positivos: «Espiritualidade, Introspecção, Profundidade, Perfeccionismo, Controle da Mente». Acho que se esqueceram do «Existir». Controlo de Mentes teria muito mais interesse a nível filosófico. Introspeção... Ora aí está uma palavra que nunca me lembro quando preciso de a dizer. Oh Kinch, lembras-te quando uma vez te quis dizer esta palavra, mas só me lembrei semanas depois quando já nem te lembravas que eu me tinha esquecido desta palavra? Acho que isso aconteceu duas vezes. Da segunda só precisei de dias para me lembrar.

Aspetos negativos: «Solidão, Pobreza, Exigência excessiva, Auto-Crítica, Reclusão». Claramente que a reclusão vai para o nosso camarada Kinch. É só uma questão de tempo. Pobreza? Oh filhes, é disso que me ando a queixar desde que me queixo!

Chegou a hora de um balanço geral: quem quiser acabar com a minha pobreza, que contacte o Kinch que depois procederemos da melhor forma para depositarem o montante na minha conta. Não há impostos, não há IVA, o Kinch não leva um cêntimo, por isso posso garantir-vos que 100 % do montante vai para meu benefício.

Fico à espera dos contactos.

Abraão Esteves

domingo, 23 de julho de 2017

Fascínio Felino II

Dar Nome aos Gatos é um assunto complicado,
Não é um só um dos teus jogos de férias;
Podes pensar, a princípio, que sou tão maluco como um chapeleiro
Quando te digo, um gato tem de ter TRÊS NOMES DIFERENTES.
Primeiro que tudo, existe o nome que a família usa diariamente,
Como Peter, Augustus, Alonzo ou James,
Como Victor ou Jonathan, George ou Bill Bailey—
Todos eles nomes sensatos do dia-a-dia.
Existem nomes mais chiques se achas que soam mais doces,
Alguns para os senhores, outros para as senhoras:
Como Plato, Admetus, Electra, Demeter—
Mas todos eles nomes sensatos do dia-a-dia.
Mas digo-te, um gato precisa de um nome que é particular,
Um nome que é peculiar, e mais digno,
Ou então como é que ele mantém a sua cauda perpendicular,
Ou estende os seus bigodes, ou cuida do seu orgulho?
De nomes deste tipo, posso dar-te um quórum,
Como Munkustrap, Quaxo, ou Coricopat,
Como Bombalurina, ou então Jellylorum-
Nomes que nunca pertencem a mais de um gato.
Mas acima e para lá de tudo há ainda um último nome,
E esse é o nome que nunca hás de adivinhar;
O nome que nenhuma pesquisa humana pode descobrir—
Mas O PRÓPRIO GATO SABE, e nunca há de confessar.
Quando reparas num gato em meditação profunda,
A razão, digo-te, é sempre a mesma:
A sua mente está focada numa contemplação extática
Do pensamento, do pensamento, do pensamento do seu nome:
O seu inefável efável*
Efavinefável
Profundo e inescrutável Nome singular.

[Tradução livre (não quis tentar manter a rima… mas parece que saíram umas quantas à sorte) de “The Naming of Cats” de T. S. Eliot; *esta palavra, pelos vistos, não existe na nossa língua, mas é suposto ser o oposto de inefável (o oposto de indescritível, o tal oxímoro, portanto) e “criei-a” ali no poema por ser uma imagem mais próxima do original em inglês, e para depois a fusão das duas palavras ser semelhante ao original.]

É um poema engraçado não acham? E se repararem ele alude à história da Alice no País das Maravilhas, ao fazer, logo ao princípio, um trocadilho com a personagem do Chapeleiro Maluco. E claro, depois lembramo-nos do Gato de Cheshire dessa mesma história, e das suas caraterísticas enigmáticas. Parece existir um paralelismo entre a parte final do poema, a parte mais misteriosa, digamos assim, e esse gato do país das maravilhas. É um poema que é mais do que parece, apesar de ter sido escrito para crianças (inicialmente este poema fazia parte de um outro conjunto de poemas que ele escreveu para os seus afilhados, mas que depois acabou por publicar). Mas bem, ficamos por aqui, reflitam mais sobre o poema se não tiverem nada para fazer. 🐱

sábado, 22 de julho de 2017

Fascínio Felino

The Naming of Cats is a difficult matter,
It isn't just one of your holiday games;
You may think at first I'm as mad as a hatter
When I tell you, a cat must have THREE DIFFERENT NAMES.
First of all, there's the name that the family use daily,
Such as Peter, Augustus, Alonzo or James,
Such as Victor or Jonathan, George or Bill Bailey--
All of them sensible everyday names.
There are fancier names if you think they sound sweeter,
Some for the gentlemen, some for the dames:
Such as Plato, Admetus, Electra, Demeter--
But all of them sensible everyday names.
But I tell you, a cat needs a name that's particular,
A name that's peculiar, and more dignified,
Else how can he keep up his tail perpendicular,
Or spread out his whiskers, or cherish his pride?
Of names of this kind, I can give you a quorum,
Such as Munkustrap, Quaxo, or Coricopat,
Such as Bombalurina, or else Jellylorum-
Names that never belong to more than one cat.
But above and beyond there's still one name left over,
And that is the name that you never will guess;
The name that no human research can discover--
But THE CAT HIMSELF KNOWS, and will never confess.
When you notice a cat in profound meditation,
The reason, I tell you, is always the same:
His mind is engaged in a rapt contemplation
Of the thought, of the thought, of the thought of his name:
His ineffable effable
Effanineffable
Deep and inscrutable singular Name.

["The Naming Of Cats" escrito por T. S. Eliot]

Estava para traduzir isto, talvez amanhã. E pelos vistos Eliot era um homem de gatos. E se repararem ele usa um oxímoro na parte final do poema e ainda inventa uma palavra para o nomear. Chato para traduções. E tem mais uma ou outra coisa interessante pelo meio do poema, mas acho que, se escrever mais alguma coisa sobre isto, vou deixar para amanhã.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Talvez

O problema de ser mais rápido do que a luz é o de estarmos condenados a viver na escuridão. Pode-se dizer então que a fome pelo progresso é uma corrida contra a luz em caminho da escuridão. A rapidez pode cegar-nos, no sentido em que nos rouba a clareza. Convém ir com o caminho iluminado, ou arriscar a queda. Emborcar o que quer que seja sem consideração leva somente ao vazio total que é o vácuo. Um vácuo no seu essencial - ausência de tudo. Nem a luz te escapa. Ou melhor, não existe dentro dele, por isso é como estivesse escapado. Tu implodes nesse vazio que tu próprio criaste, és papa para o buraco que te consome e desapareces sobre a tua fantástica supra velocidade.

São sempre divertidas as digressões à custa de um dank meme. Não os devemos subvalorizar.


quarta-feira, 19 de julho de 2017

Quando o tudo é explicado pelo tudo e o nada pelo nada

No mar experimentalista da nossa natureza encontro-me a explorar explorações humanas; subo para cima e para baixo no infinito que nos define; entro para dentro do mistério que nos encerra, mas também entro para fora; explico explicações, como comidas, bebo bebidas, corro corridas, acabo fins, começo começos, encontro aquilo que pode ser encontrado e perco aquilo que tem de ser perdido; experiencio experiências; ouço com os ouvidos, vejo com os olhos, toco com o tacto; cheiro cheiros, saboreio sabores, vejo visões; enfim, coiso coisas.

Aquilo que se encontra no universo do nosso experimental é um oxímoro paradoxal e redundâncias pleonásticas. No meio de toda esta retórica tautológica que, não nos definindo, é uma parte do nosso todo, nadamos procurando o espaço que é próprio a nós; espaço que nos rejeita menos que os outros espaços. No meio de tanta agressão tão agressiva e de tanta calma calmaria, desejo o desejo de procurar a procura deste espaço espacial neste tempo, digamos, temporal. Ouvindo a invariavelmente invariável música musical danço a dança dos dançantes que sempre dançaram a dança dançável. Escrevo escritos incongruentes explicáveis apenas tautologicamente.

Escrevo desta e daquela forma porque posso. Aquele escritor escreve coiso e tal, e sempre escreveu coiso e tal. Aqueloutro defini-se pela forma descritiva, e sempre foi assim. Mais aquele é o cúmulo da escrita blá blá blá. Mais o outro que glu glu glu glu o gla gla. E este que começa sempre com um vrii vrii. E aquele que se lê tão bem, e mais este que é tão tão difícil de se ler, mas dizem ser super recompensante - ya meu, não estás bem a ver, foi tipo, tive de ler aquele capítulo uma catrafada de vezes, não estás bem a ver meu, mas depois é tipo BUM e ficas tipo 'este gajo sabe' estás a ver? - e temos ainda aquele escritor sarcástico, mais o engraçado, mais o asneirento, mais o sensacionalista, mais o moralista, mais o proverbial, mais o .............. E acabo por descobrir que a descoberta do espaço individual não existe, mas a procura não deixa de ser necessária. Esta procura pode muito bem ser ambígua, mas não tautológica, apesar de estar repleta de redundâncias. Saltitar entre este espaço e aquele. Nunca me deixando prender. A liberdade total. Não é isso que é bom? - dizem uns, enquanto que outros encolhem os ombros. Enquanto isso continuo a saltitar aos saltos por entre saltos saltitantes.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Mixórdia Clássica


Vi isto há bocado e achei tão engraçado que tenho de partilhar. Existe um vídeo antes deste, procurem por aí se quiserem ouvir mais disto. As carinhas dos bonecos dão um outro ar à coisa. E o seu lado de comédia não se fica pelas carinhas. A parte do John (433) leva esta obra a um nível tão mais elevado, é pena que não esteja no tempo certo nem na tonalidade correta, porque isso seria essencial para a integração da peça deste compositor [1] 😎

[1] Isto foi mais uma tentativa de piada. Só um verdadeiro connaisseur musical entenderá [1.1]. 
    [1.1] Isto já sou eu a ser simplesmente um parvo pretensioso... não liguem [1.1.1].
           [1.1.1] Isto já sou eu a dar uma espécie de D. F. Wallace ou talvez algo ao estilo de Wittgenstein (no primeiro livro, aquele                     que eu partilhei algures num post, mas não resulta muito bem porque isto não são proposições, ou se calhar até                            são, mas não bem daquele estilo, ou se calhar...). Ok, já fui longe de mais, vou parar. 

domingo, 16 de julho de 2017

Abraão Também Regressa #12

Bem, aqui vem mais um post de Abraão. Depois desta pausa Abraão disse-me que se demitia da sua crónica/rubrica semanal, mas que quando tivesse algum tópico interessante fazia um texto de vez em quando. Aqui está ele. (Pequeno contexto sobre a parte dos milhões gastos no quilograma aqui.)

...

O momento está a chegar. Mas vamos tentar não pensar nisso.

Existe tanta coisa para ser pensada. De certeza que até chegar a hora da verdade - ou melhor, da mentira (ou melhor, da ignorância) - nos vamos conseguir entreter.

Não tenho pensado muito no sentido de vida. Será que deixei de ter sentido de vida? Claro que não... Será que uma ideia deixa de existir por deixar de ser pensada? Muito provavelmente não... Se não, como a conseguiríamos relembrar? Tem de estar armazenada algures, certo? Mas onde? Serão as ligações neuronais que estabelecerão ideias? Depois terei de ir ver à Wikipédia... De certo que a Wikipédia haverá de saber. Mas até lá irá chegar o tal momento... Mas não pensemos nisso já... Não há razão para estar a sofrer por antecipação.

Como é que Sartre não levava em conta a influência psicológica na sua teoria de existencialismo? Todos os traumas de infância (e o Kinch que o diga...) afetam a forma de vermos e decidirmos o mundo. Freud já devia ter descrito as suas ideias no tempo de Sartre. Serão da mesma época? A Wikipédia também haverá de ajudar nisso...

Falta pouco... Falta pouco...

Todas as semanas é o mesmo stress... Mas como posso eu mudar o mundo? Como posso eu fazer com que as pessoas se apercebam da realidade? Como posso eu fazer com que as pessoas percebam as suas incompetências científico-laborais?

Chegou... Lá pedi os duzentos gramas. Como de costume, uma cara de quem acha que ouviu alguma coisa errada... Não há remédio... Vai ser como todas as semanas... Porque me sujeito eu a isto? Mas o pior está por vir...

«Pode ser duzentas e vinte?»

Como? Como?! Depois de todos os milhões de dólares e de todo o esforço da comunidade científica em tentar estabelecer o valor do quilograma de forma a que não dependa de um objeto físico... Tudo para que essa sétima unidade básica do Sistema Internacional deixe de depender desse peso de mercearia feito de uma liga de patina-irídio que também é conhecido por Protótipo Internacional de Quilograma...

Por um lado, estão a tentar calcular a quantidade de átomos numa esfera de silício-28 cristalino puro que caso caia ao chão transforma-se numa despesa de vários milhões... Tudo para fixarem um novo número de Avogadro... Por outro lado, estão a usar uma balança de Kibble para, com o auxílio de efeitos quânticos, fixarem uma nova constante de Planck. Tudo para, em conjunto, definirem - ou mais epicamente: redefinirem! - o valor de quilograma para que este não dependa de algo físico...

Todo este esforço para eu pedir duzentos gramas de queijo e ouvir «Pode ser duzentas e vinte?»... Camões haverá de estar a dar voltas no caixão (esteja ele onde estiver, se ainda estiver) por este povo não saber que grama é um substantivo masculino. Ainda por mais, ignoram por completo este esforço quase hercúleo (ok, nem perto disso, mas é efetivamente caro) além de ignorarem o erro associado à medida! E eu bem vi que no LCD da balança aparecia duzentos e dezoito gramas!

Como é suposto eu continuar a viver suportando isto!

Mas sim, pode ser isso...

E aqui estou eu a ignorar que as máquinas devem estar mal taradas para que dessa forma eu pague mais...

É por estas e por outras que eu não compro queijo...

Abraão Esteves

sexta-feira, 14 de julho de 2017

IV. Morte por Água

Phlebas o Fenício, morto faz uma quinzena,
Esqueceu o grito das gaivotas, e as ondas do mar profundo
E o lucro e o prejuízo.
                                   Uma corrente sob o mar
Apanhou-lhe os ossos em murmúrios. Enquanto ele subia e descia
Passou os estágios do seu amadurecimento e juventude
Entrando no remoinho.
                                     Gentio ou Judeu
Ó tu que rodas o leme e olhas o barlavento,
Considera Phlebas, que foi um dia tão formoso e alto quanto tu.

[Tradução liberal da 4ª parte do poema "The Waste Land" (link do pdf) de T. S. Eliot. Tentei manter o vocabulário mais perto do original, mais perto do estilo formal e linguagem, digamos, parabólica. É uma boa leitura, recomenda-se].

quinta-feira, 13 de julho de 2017

MonoNeon

Descobri hoje um tal MonoNeon. Toca baixo de uma maneira muito pouco prática e nada convencional. Pesquisei na wikipedia e lá diz que ele é destro e que faz parte do seu estilo tocar com um baixo para destros mas virado ao contrário, de maneira a que se toque como os esquerdinos. Mas isto sem mudar a configuração das cordas. É mesmo muito esquisito de se ver. Pelo menos para mim. Mas a verdade é que soa bem e ele ajeita-se com aquilo. Ele pode ser destro, mas, pelo menos para tocar baixo, desenvolveu qualidades de ambidestro.


Também digo que é pouco prático tocar assim porque, normalmente para os baixos elétricos, o design do instrumento está feito de forma a se tocar de uma determinada maneira, isto é, temos mais espaço e mais facilidade para tocar de uma forma própria. Não são simétricos, este tipo de instrumentos digo. Por exemplo, para a minha guitarra clássica isso não importaria muito. Nesse aspecto a minha guitarra é simétrica (algumas não são mesmo assim, mas a minha é). Aliás, até experimentei tocar como ele. Já tinha experimentado umas quantas vezes. Sentimo-nos como se estivéssemos a começar pela primeira vez. A lentidão; olhar para as mãos para nos encontrarmos; sentir as dores nos dedos da mão que normalmente não pressiona as cordas; sentirmo-nos de novo uns desajeitados com aquele bloco de madeira nas mãos que parece que não tem jeito nenhum; uma experiência engraçada sem dúvida, a de voltar ao início.

Nesse vídeo que deixei aí ele juntou-se com um rapper (que eu não conheço) e fizeram uma música que até achei interessante. A letra cativou-me. Ele tem uns vídeos no canal dele também muito engraçados, em que ele melodia pequenas cenas nada musicais. Também é interessante o pequeno manifesto que ele coloca no fim de alguns desses seus vídeos. O manifesto para o artista segunda a perspetiva dele. Uma descoberta interessante sem dúvida.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Re-harmonização (não sei se é assim que se escreve isto e agora o título ficou enorme, fica por aqui)

Este rapaz Jacob Collier tem ganho bastante reconhecimento no mundo da música, especialmente por parte dos nerds (não é para levar a mal, eu também o sou) da teoria musical. Muito devido às entrevistas com June Lee (fica para outro post este tópico do June Lee). Por agora partilho só este vídeo que acho muito engraçado. É de uma altura em que Jacob ainda era, digamos, desconhecido, mas, no fundo, aqui está grande parte da essência deste músico. É um arranjo a 6 vozes do tema dos Flinstones (com solo de melódica). Existem outros arranjos dele mais complexos, mas este é (relativamente) simples e revela bastante o seu conhecimento harmónico.

domingo, 9 de julho de 2017

O Escritor

O escritor como estudioso da condição humana: um voyeur, não no sentido sexual, mas no sentido mais tradicional de "aquele que vê"; "aquele que observa o que quer que seja, sem participar nem interagir com a dita observação, e sem ser observado por outros"; portanto, "o que observa, mas às escondidas" como um "investigador da humanidade". Quase como ver televisão. Quando vemos televisão (ou algo parecido) estamos a observar outros, sem nunca sermos vistos por eles. Mas perde-se todo este conceito, porque eles sabem que estão a ser observados, e portanto o comportamento deles é função do observador. Por isso, já não me lembro porque trouxe este assunto à conversa. Acho que só queria dizer que podemos olhar para o escritor como um excelente observador (e a televisão e outros meios desse género não contam como objeto de observação). A imprevisibilidade do dia-a-dia confere um caráter agudo à vivência humana, e através do voyeurismo o escritor capta alguns desses eventos tão cheios de material cru para explorar. Agora um pouco de trivia sobre o escritor desta perspetiva voyeurística:

Pode-se dizer que o habitat natural do escritor é todo o sítio onde ele apanhe de surpresa momentos da realidade humana (mas se por acaso encontrarem um escritor a observar-vos na casa de banho é porque provavelmente não é um escritor... 🚔);

Toda a pessoa que use óculos escuros é um potencial escritor (porque toda a gente sabe que o escritor é super cool 😎, ah e porque quer olhar para toda a gente sem que ninguém perceba);

O escritor faz tudo o que está ao seu alcance para não interagir com ninguém (para não arruinar momentos humanísticos, e não por vergonha ou qualquer outra razão parva 😨);

Chega de trivialidades por hoje e peço desculpa a todos os escritores (eu juro que pensei que isto fosse ser um post sério, vai ter ficar para uma próxima; só espero não ter arruinado este tema... ☺)

sábado, 8 de julho de 2017

Urban Dictionary - só que em português

Devíamos ter uma versão portuguesa do urban dictionary. Se calhar existe, mas eu ainda não a descobri. Entretanto, se procurarem definições nesse dicionário com a #portugues encontram isto. 

No.5 will astonish you!

quinta-feira, 6 de julho de 2017

AI high on Jazz

Tropecei por estes vídeos e fiquei com vontade de experimentar estas coisas.

(Parte 1)

(Parte 2)

Fico muito mais descansado sabendo que podemos ensinar às máquinas de inteligência artificial (que um dia haverão de nos dominar e escravizar) música complexa 😊

Mas é realmente interessante, e agora vou ter mesmo de experimentar. (Enquanto ainda somos livres de o fazer 🤖)

quarta-feira, 5 de julho de 2017

Sobre a Linguagem

Wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen.
(Tradução liberal: Daquilo que não conseguimos falar, temos de nos calar.)

É assim que acaba o livro de Wittgenstein e, na verdade, é todo o propósito do livro. O livro de que falo é Tractatus Logico-Philosophicus (pdf do livro - cliquem na hiperligação). Achei interessante porque sempre achei que a linguagem (sabem, aquela falada por nós) é, no fundo, incompreensível. Este senhor parece que também achava isso e, para ultrapassar o problema, tentou idealizar uma linguagem perfeitamente lógica, totalmente compreensível. Chegou à conclusão que tal linguagem só serviria para descrever e caraterizar aquilo que pode ser observado, isto é, objetos, digamos, reais.

Como grande parte da filosofia trata de coisas para lá desta dimensão objetiva, por exemplo a metafísica, esta linguagem que ele idealizou é inútil para mediar, simplificar e clarificar a maior parte dos problemas filosóficos. Porque, segundo ele, as questões filosóficas só são realmente questionáveis devido à natureza da linguagem. A linguagem não serve para clarificar estas questões nem para as compreender. Por isso ele acaba assim o livro, dizendo que o verdadeiro método para a filosofia é o de dizer nada, a não ser aquilo que pode ser dito - isto é, apenas factos, tudo aquilo que nada tem que ver com filosofia.

Parece que logo a seguir a ele ter escrito o livro e ter chegado a estas conclusões, Wittgenstein retirou-se do mundo da filosofia durante uma década, no qual não fez nada, nem escreveu nada, sobre tais assuntos. Depois lá voltou de novo para dar umas palestras na faculdade, e ao que parece tinha umas teorias novas sobre a linguagem. Vou ler a seguir o outro livro dele onde estão essas teorias. Mas anda tudo à volta do mesmo. Sobre o facto da linguagem ser algo incompreensível, a não ser para aqueles que sabem o seu significado. É aliás assim que ele começa o livro de que vos falei, dizendo que o livro é apenas compreensível para aqueles que já pensaram (isto é, que já sabem ou conhecem) os pensamentos e ideias descritos no livro. Portanto, para clarificar, só podemos compreender aquilo que já compreendemos. Compreendem?

Nota: O livro é algo difícil de se ler, mas, apesar de achar que compreendi uma pequeníssima percentagem do mesmo, achei uma leitura interessante. E têm em paralelo, nesse link que vos leva ao pdf, o original em alemão. É ótimo, porque assim parece que o objetivo do livro torna-se ainda mais claro - o de ser incompreensível.

terça-feira, 4 de julho de 2017

O Regresso (Parte 2)

Eu juro que desta vez não vão haver mais interrupções de tanto tempo. (Talvez não jure, mas sem dúvida que vou tentar). Foi quebrado ontem este intervalo (1 mês?) e a partir de agora vou tentar ser mais regular (a conversa do costume). Talvez precise de comer aqueles iogurtes da activia ou lá o que é [1]. Fiquem atentos. Despeço-me, mas por pouco tempo. Para os 2 ou 3 leitores, até à próxima.

[1] Tentativa de piada.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

Tem Rasteira?

Será o mundo
Preto
Às riscas brancas
Ou
Branco
Às riscas pretas?

É escuridão que
De vez em quando
É iluminado
Ou
É brilho que
De vez em quando
É obscurecido?

Ou é às vezes um
E outras o outro?

Ou não é nenhum,
Mas sim uma mistura
Dos dois?

Reformulo:
Mundo não é o conceito mais correto para o caso.
Natureza humana ficará melhor.
Porque nós fazemos do mundo o que queremos,
Não parece justo estar a usar o mundo como bode expiatório.
Torna-se mais simples assim, não é?
Ora vejam como fica:

Será a natureza humana
Preta
Às riscas brancas
Ou
Preta
Às riscas brancas?