segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

"Novo" Livro de Walt Whitman

Há uns dias foi anunciada uma descoberta de um romance de Walt Whitman, o autor mais conhecido pela sua poesia em forma de verso livre "Leaves of Grass". De facto a obra do autor não é muito extensa, não tendo publicado muitos livros, ou pelo menos que o público soubesse que eram dele. Descobre-se então este romance, de título "Life and Adventures of Jack Engle", publicado no início da carreira de Whitman, sob um pseudónimo, num jornal americano. 
Não é a primeira vez que é descoberta uma obra dele sob um pseudónimo, e acredito que haja mais por aí. Parece que Whitman gostava de experimentar e exprimir os seus pensamentos no anonimato, como muita gente compreenderá, ainda para mais aqueles que escrevem em blogues também anonimamente como este vosso 'blogger' (ainda que muito principiante). 
De facto a anonimidade é algo muito apetecível, dá-nos outro tipo de liberdade, e certamente que Whitman a soube aproveitar, visto que foi através de tais experiências usando a obscuridade do pseudónimo que encontrou a sua voz e escreveu a grande obra "Leaves of Grass". Dá-nos certamente uma outra perspectiva do escritor, não tanto como aquela pessoa experimentada, madura, plena e multitudinária que conhecemos da sua magnum opus, mas sim um jovem autor em procura do seu estilo. Acho fascinante pensar isto de Whitman, traz algum conforto ver que ele próprio não queria que o público soubesse dos seus trabalhos mais iniciais. Como ele próprio disse, "My serious wish were to have all those crude and boyish pieces quietly dropp'd in oblivion" (em 1882, falando claro das obras até então conhecidas e atribuídas ao próprio), e pelos vistos parece que bem tentou, mas há sempre um chato de um estudioso literário que lá desenterra estas coisas...

Deixo-vos um artigo num jornal americano que fala sobre isto: Artigo sobre o livro de Whitman;
E ainda o livro "Life and Adventures of Jack Engle" que já foi publicado, desta vez com o nome real do autor, e está livre de ser lido por quem assim o entender (eu próprio ainda não li mas como é pequeno talvez dê uma olhadela).

Apresentação às Funções #1

É com muito gosto que este blogue publica o primeiro texto de Abraão (pseudónimo), o escritor de quem tinha já falado numa anterior publicação. Ele irá trazer-nos uma rubrica semanal de temáticas diversas. Quando lhe perguntei como seria a melhor forma de se descrever ele respondeu, e passo a citar, "Eu não gosto de formalidades. Nem gosto de seguir uma linha fixa na minha forma de pensar e de escrever. Nem gosto de ser obrigado a escrever 'posts' de conteúdo literário e por isso nunca o farei". Acho que podemos ficar ansiosos pelos textos de Abraão, entretanto, fiquem com o primeiro.

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Perdoem-me! Perdoem-me! Eu tentei! Eu tentei! Eu tentei… Como é que isto aconteceu?... Ele tinha-me prometido! Ele ia contar… Quantos eram? Cinquenta? Não… Não… Eram dez! Ele ia contar dez! Ele tinha-me prometido que ia contar! Não eram cinquenta! Eram dez! Perdoem-me… Eram… Eram dez… Nós tínhamos, aqui mesmo, neste mesmo sítio, aqui onde estamos a falar… Nós tínhamos falado… Ele olhou-me nos olhos e prometeu-me… Ele ia contar dez… Agora só resta fumo e cinzas… Fumo e cinzas… Não… O que eu fiz… Eu devia… Não… Perdoem-me… Mas eu tentei… Dez! Tanto fumo… Ele tinha-me prometido que ia contar até dez… Um, dois, três, quatro… Como? Um sonho! Sim, de certeza que isto é um sonho! Ele jamais faria uma coisa dessas! Muito menos… Muito menos depois de me ter prometido! Ele prometeu-me! Aqui mesmo! Ele prometeu-me que ia contar dez! Por isso… Por isso é claro que isto é um sonho! Jamais… Tanto fumo… Jamais eu e a mulher entregaríamos a nossa vida a alguém tão… Tão maléfico… Tão vingativo… Tão… Tão humano… Já mais! Por isso, tudo isto só pode ser um sonho! Vamos rir! Vamos rir! Estas cinzas… Este fumo… Uma mera ilusão… Um sonho… Não… Eu não o devia ter confrontado… Eu não devia ter-lhe tentado chamar à razão… Eu… Mas o que podia eu ter feito? Julguem-me! Julguem-me! Matem-me! Mas eu não soube como agir… Nunca pensei… Mas ele era tão justo… Não! Como é que ele me pode fazer isto! Como é que ele pode fazer-lhe isto! Eles estavam inocentes! Ele ia contar dez! Como é que um ser pode ser tão diabólico!! Tão… Tão HUMANO!...

E agora? O que há a fazer… E vejo tanto fumo… Agora… Agora… Agora vamos fingir. Vamos fingir que este fumo não existe… Tudo isto não se passou. E eu e a mulher teremos um filho! Sim! Um filho! Custa a acreditar, não é?! Mas ele prometeu! E… E ele cumpre sempre a palavra, certo? E… E seremos uma família feliz, como todas as outras…

Ele prometeu… Eles talvez fossem culpados… Talvez merecessem… Sim… Sim. Eles mereceram! Ele prometeu-me! A mim! Nos meus olhos! Eles deviam morrer! Agora… Agora são cinzas… Sim… Ele foi justo.

Abraão

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

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então eu disse-lhe 'mas se tu queres o bicho eu vou contigo e fazemos negócio' ao qual ele respondeu 'por falar em negócio ainda me deves a cena do unicórnio' e foi aí que lhe disse 'ainda hoje estive no barco e falei com o tal inglês do milho que estava com o irmão daquele do boné amarelo com o símbolo estranho que se parece com um babete tu sabes qual é' acenou-me que sim e continuei 'o papel está lá depois recebes a mensagem para tratares disso' e a conversa continuou por aí até que o da bicicleta entrou na taverna com o seu olhar feroz quando num pandemónio se transformou o salão e ele (aquele com quem estava a falar) escorrega no vomitado grita de agonia sinto o braço dele que se parte como se fosse meu enquanto o outro observa e eu parado faço o mesmo não me consigo mexer tento avançar o mundo é uma imitação desacelerada do tempo a frustração é cadavérica a rigidez que o corpo tenta combater é impossível a futilidade do exercício enlouquece Acordo

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Notas: ouvir obras musicais de cariz experimental pode causar reações tóxicas irreversíveis se não se tiver cuidado; o experimental, de forma genérica, tenta (cor)romper algo, sendo muitas vezes agressiva a forma com que se nos apresenta; ouvir Sun City Girls pode ser terrivelmente assustador, assim como cómico; ouvi o álbum "Dante's Disneyland Inferno" e sinto-me genuinamente em estado de alerta, algo assustado, algo divertido, completamente desperto; não sei se vou conseguir dormir; escrevi aquele texto, ameaçando a coerência, ignorando grande parte das regras da escrita; culpo a corrupção do experimental; mas já não sei o que digo; o absurdo tomou conta de mim.

Link para quem quiser ouvir o irracional "Dante's Disneyland Inferno": https://open.spotify.com/album/0wMImdpEQ5G1mXWnOZJecm

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Novos Começos

"Once upon a time and a very good time it was there was a moocow coming down along the road and this moocow that was coming down along the road met a nicens little boy named baby tuckoo....". 

Não podendo deixar de fazer referência ao meu homónimo começo assim, com a anterior citação (ver referência no final), esta miscelânea, a qual me comprometo fazê-la crescer através de textos das mais possíveis variedades, estilísticas e temáticas. Perguntam-se talvez os leitores o porquê da escolha do texto acima citado; a razão pela qual tamanha infantilidade seria escolhida para marcar o início de uma obra que, garanto-vos, se diz séria, não é verdade? Penso que será por uma questão de paralelismo literário, na medida em que marca, também no livro de onde foi retirado, o começo de uma história.
Por agora deixo em aberto todos e quaisquer motivos de escrita futura neste blogue; considero a inserção de personagens (mais ou menos ficcionadas) e, apesar de ser único autor deste blogue (enquanto criador do mesmo), não serei o exclusivo contribuidor, pelo que haverá, pelo menos, um post semanal (negociações a decorrer quanto à periodicidade do mesmo) de um outro escritor.
Termino assim esta primeira publicação, não percam as próximas deste vosso conterrâneo que vive a 100 metros de um vívido cemitério.

(P.S.: O excerto usado foi retirado do livro "A portrait of the artist as a young man" de James Joyce. Desde já recomendo a obra em prosa dele (não conheço a poética, por isso não me pronuncio sobre tal), apesar de ainda não ter lido "Finnegans Wake").