sábado, 12 de agosto de 2017

E o Sentido?

Procuro-te,
Mas não te encontro.

Pergunto-me,
Será que vale a pena?
Será que existes verdadeiramente?

E quando desistir, porque
Está destinado a acontecer,
É aí que te descobrirei?

...

Até agora, a existência
Apenas me revelou o absurdo
De si mesma.

Eu reconheço o absurdo, reconheço
Os paradoxos da nossa condição, mas
É nesse reconhecimento que se encontra
O poço de um desespero e impotência.

Viver no absurdo, viver
Entre o eterno e o vazio, é sofrer.
Eu reconheço isto.
Eu reconheço que isto é a vida, a nossa existência.
Perceciono isto, por vezes, como uma brincadeira de criança,
Que cria uma história no seu quarto, quando tira os
Bonecos do baú; dá-lhes vida e um aparente propósito,
Para passado um bocado os colocar de volta
No baú que é o vazio.
Por vezes penso isso, que
Nós somos como os brinquedos que são
Retirados do vazio do universo; é-nos dada
Vida e um aparente propósito, apenas para nos
Porem dentro do negro baú do vazio novamente.
A diferença entre nós e os bonecos está na
Consciência de que somos donos.
Com esta consciência podemos questionar os aparentes
Sentidos que nos dão, ou nos aparentam; podemos questionar,
No fundo, a vida que nos foi dada,
E, tendo uma escolha, podemos tomar qualquer decisão -
Rejeitar todos os sentidos ilusórios, rejeitar a própria vida,
E decidir viver naquilo que para nós é absurdo, ou acabar com
A brincadeira.

...

Nota: Acho que isto é fruto de um Camus reencarnado em mim, depois de ter lido os primeiros ensaios do livro "O Mito de Sísifo" desse existencialista.

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Nota rápida

Só uma nota rápida. Estive parado aqui no blog porque, como sabem, estava a usar os dados móveis para aceder à net e não me apercebi que sempre que partilhava os dados com o meu pc, este gastava e gastava... com atualizações de antivírus e coisas assim em background imagino eu. Como estava a dizer, quando me apercebi ele tinha-me drenado os dados praticamente todos e entrei num modo de poupança extrema dos últimos megabytes. Mas agora já voltei de novo para a minha normal civilização e espero retornar com os posts com a regularidade do costume.

Hoje não vou publicar mais nada, até porque estou cansadinho da viagem, mas posso adiantar-vos que acabei hoje o livro do Wallace, “The Broom of the System”, e tenho que dizer que achei um excelente livro, apesar de ter sido escrito por um Wallace ainda bem jovem de 20 e poucos. Estou preparado para fazer uma espécie de comentário ao livro e aos temas desenvolvidos no mesmo, mas será daqui a uns dias provavelmente. É um livro onde muito se passa, e, claro, temos de ter em atenção, escrito por um jovem a experimentar a escrita de ficção (uma ficção com grande teor ensaístico e reflexivo, deva-se dizer), um livro cheio de pequenos pormenores que divertem um jovem estudante de filosofia e os seus pares, uma escrita por vezes demasiado intelectual e trabalhada (porque o tema, motivo da história e lugar reflexivo em geral assim o exige também), um jovem que, enfim, quer espantar, impressionar, os seus pares, colegas, professores, círculos intelectuais de escrita, enfim, todas essas coisas. Mas bem, fico-me por aqui, depois faço o tal post sobre a minha opinião mais detalhada.

Nota: Tinha escrito isto ontem à noite (ou hoje de madrugada, já não sei), mas não me foi possível publicar nessa altura.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Sobre a linguagem (outro) II

Vou só comentar pequenas coisas relativamente ao último comentário de Abraão sobre os 2 últimos posts. Abraão disse-me que o texto não era dos melhores que já tinha escrito; eu estava ciente disso. Estava ciente de que, passando eu e ele por um período de um inacesso de inspiração, esse post foi escrito por Abraão com pouco cuidado e rigor; o que ele confirmou como sabem. Estava bem ciente, mas, devido ao período fracamente inspirador, e depois de ter lido o tal post de Abraão, apeteceu-me comentá-lo sem grandes medidas, e divagar um bocado sobre aspectos da linguagem, uma vez que o post estava intimamente relacionado com o tema.

Agora, sobre a parte que eu negligenciei um pouco no meu comentário, acerca da crítica de género e o seu uso (do género) na nossa linguagem, e que eu bem sei que é um tema que Abraão tem em grande consideração, sobre isto apenas referi que era igual o uso de deus ou deusa, e que tendíamos a usar deus porque o masculino tende a ser usado em casos não familiares bla bla bla qualquer coisa assim. No entanto não me tinha apercebido que, enquanto substantivo, não podíamos usar a palavra omnipotente no feminino. Por exemplo, "A omnipotente é bondosa" estará errado, de acordo com o dicionário. Agora se dissermos, "A omnipotente nave é bela" é correto, pois estamos a usá-lo como adjetivo. Acho que era isto que Abraão queria criticar. A forma como as raízes da problemática do género são profundas ao ponto do dicionário não aceitar que esta palavra seja usada no feminino enquanto substantivo. Nada contra a crítica, admito que não me tinha apercebido disto.

Depois Abraão refila porque eu digo que ele está-se a afastar do contexto linguístico, quando diz "porque não apenas um ser superior?" quando se refere a usar deus como definição de omnipotente. Queria apenas clarificar que, dizer "ser superior" não é o mesmo que dizer deus (ou deusa) porque "ser superior" implica um determinado grau de relatividade, enquanto que, no contexto linguístico, isto é, na definição de uma palavra como omnipotente (relembrando, significa "todo poderoso") não pode existir nenhum grau de relatividade, pois é algo absoluto. Definir omnipotente como "ser superior" é muito incorreto, porque não revela o absolutismo que a palavra necessita, coisa que "deus" revela, e por isso é aceite como definição.

Só mais uma questão que Abraão falou sobre algo que eu disse, "Também já me estou quase a perder", e que ele respondeu que ele não se tinha perdido... Essa frase não era para ser lida dessa forma. Não era minha intenção insinuar que o leitor do meu texto se estava a perder, ou ainda que o autor do texto que eu estava (mais ou menos) a criticar se tinha perdido ele próprio. Nada disso. Mas agora vejo que pode ser visto dessa forma. Olhem, no entanto, para essa pequena afirmação como uma espécie de self referencing piece of writing; um pedaço de "meta-escrita" para o meu consciente/inconsciente ou ainda para o meu "eu que escreve/eu que lê". Quero eu dizer com isto que, enquanto o meu "eu que escreve" escrevia o texto, o meu "eu que lê" lia-o; e o meu "eu que lê" afirmou que se estava a começar a perder, ao que o meu "eu que escreve" respondeu, da maneira que lhe é própria - isto é, por escrito - que ele também se estava quase a perder também. E é esta a história dessa frase. Se calhar agora é que ficámos todos perdidos, não foi?

Queria ainda escrever sobre o enigma que Abraão deixou, mas tenho de admitir que não estou dentro daquele jogo de palavras, de forma nenhuma... Vou apenas assumir que a caneta a que ele se refere é a "caneta" que ambos conhecemos (e que o leitor me vai desculpar, mas que não vou explicar o que é), e que essa "caneta" e as ações que eu realizo com ela (o mistério para o leitor aqui torna-se ainda mais misterioso decerto ☺) me fazem rabiscar erros por me corroer o ser - a minha entidade, portanto - e que esses erros são letais - de morte - e todos poderosos - deus - ou qualquer coisa assim?? Um enigma bastante enigmático, tão enigmático que acho que acabei por dizer só parvoíces sobre ele.

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Comentários sobre os últimos 2 posts deste blog #15

Em jeito de resposta em relação ao meu último post (e o dele também), Abraão escreveu mais um texto aqui para o blog. Não sei se irei comentar este novo texto, mas devo escrever qualquer coisa amanhã ou assim, nem que seja para interpretar o enigmático conjunto de palavras que Abraão me deixou.

...

Não estava a pensar escrever aqui tão depressa, mas, por razões cívicas, vejo-me obrigado a escrever algumas notas sobre os últimos dois posts.

O Kinch decidiu fazer um exercício que, digamos, é bastante interessante. No entanto, cometeu alguns erros, ou pelo menos a mim parecem-me erros.

Analisar um texto em termos filosóficos é um exercício incomum mas que beneficia tanto quem o faz, como quem tem a oportunidade de analisar tal exercício. Mas existem vários elementos que compõem este exercício: o texto a ser criticado, a teoria a ser utilizada e o crítico. Penso que estes sejam os principais elementos.

Vamos então analisar o texto a ser criticado. Esse texto, que por coincidência é da minha autoria e que por isso contamina tudo o que está a ser escrito, foi um texto escrito apenas para, usando as palavras do Kinch, «quebrar aqui este nosso hiato». Não foi um texto escrito com grande ponderação nem com grandes esforços filosóficos. Acabou por ser um texto com algumas opiniões descritas sem rigor, e por isso, com erros.

Esta é apenas uma crítica que faço à crítica, não apontando como um erro. Utilizar um certo rigor filosófico para criticar um texto escrito sem intenção de ser rigoroso é pouco correto. Claro que esta é apenas a minha opinião. 

Vamos então aos erros. Um erro que é possível observar sobre toda a crítica é também um erro comum de se encontrar na nossa sociedade. O Kinch olhou para o meu texto com os seus olhos simplesmente, sem observar críticas implícitas e lendo o que quis da forma que quis. Isto encontra-se exemplificado na frase «Bem, acho que Abraão já se está a desviar extremamente do contexto linguístico.» Porque é que eu tinha apenas de me cingir ao «contexto linguístico»? Quanto à frase «Já me estou quase a perder também. »: eu não me perdi...

Um exemplo claro é a sua ponderação sobre a definição de omnipotente. Segundo o dicionário priberam, a palavra omnipotente ou é um adjetivo de dois géneros ou um substantivo masculino. E aqui o Kinch passou totalmente ao lado da crítica que eu quis fazer. Conhecendo a minha opinião sobre o género na língua portuguesa, e sabendo a minha opinião sobre a religião em geral, devia ter percebido a crítica. Eu não digo que este pormenor não seja uma idiossincrasia ou um sintomastismo da língua. Mas são exatamente este tipo de idiossincrasias e sintomismos que eu critico no post.

Depois o Kinch começou a tecer sobre a sua teoria. Algumas coisas não me parecem corretas mas, como não não conheço a teoria, também não me vou debruçar sobre o assunto.

Quanto aos potenciais paradoxos... Essa ideia até é interessante. Mas isso é o mesmo que dizer que se os EUA começarem a fabricar mais armas nucleares, tal não é um problema, mas sim um potencial problema... Ou seja, chamar-lhe paradoxo ou potencial paradoxo...

Depois Kinch fez mais umas quantas considerações. Algumas muito interessantes... Outras que me parecem contraditórias. Mas mais uma vez não me vou debruçar sobre o assunto...

Continuando a crítica de Kinch. «Revela inocência pensar que a linguagem tem um cariz universal, ou que todas as palavras têm de significar o mesmo para todas as pessoas.»... Se a linguagem foi criada como artifício para comunicar, como é que é suposto comunicarmos se diferentes pessoas têm diferentes significados para a mesma palavra? 

O objetivo de ter dicionários é sabermos a definição de uma palavra. A definição cultural dessa palavra. Cada um é livre de usar as palavras como quer, mas isso não elimina a definição cultural das palavras. Claro, podemos jogar com contextos e definições. Também existem as palavras de significados ambíguos ou dúbios... Mas vamos ser sinceros, sem sistematização não chegamos a lado nenhum.

Mas Kinch, a ti, adepto da liberdade linguística, desafio a interpretar a seguinte mensagem de amizade que deixo: Caneta de entidade rabiscar erros deus de do morte...

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Sobre a linguagem (outro)

Pegando um pouco no assunto que o Abraão trouxe no post anterior, deixem-me só referir umas quantas coisas. Primeiro, aquelas questões que Abraão levantou sobre a definição de omnipotente significar deus, como: então não pode ser deusa?, ou não pode ser um ser maléfico?, ou não pode ser um ser superior?, essas perguntas não me parecem ter sentido, porque temos de olhar para essa definição no contexto que lhe é próprio. A de ser deus ou deusa é trivial; deus ou deusa é igual, e, como é idiossincrático da nossa língua, tendemos a usar o masculino em situações não familiares. Por exemplo, quando nos referimos a um cão na rua, usamos (quase todos nós pelo menos) a palavra cão, e não cadela. É algo sintomático da linguagem, não me parece ser relevante para o caso. Depois se pode ou não ser um ser maléfico – porque não? Nada na palavra deus ou outros equivalentes indicam sobre a malvadez ou bondade de quem se refere. Nada se refere contra haver deuses bons ou maus. Ser deus não indica necessariamente uma personalidade bondosa ou malvada. Pode ser malvado sim, como pode não ser. Acho que temos de ter isso em conta. Agora o de não poder ser um ser superior. Bem, acho que Abraão já se está a desviar extremamente do contexto linguístico. Estávamos na definição de omnipotente, que um dicionário diz significar deus. Ora, neste contexto, temos de ter em atenção que omnipotente, tal como a palavra indica, e sem precisar de grandes análises, significa na sua forma mais simples e literal todo (omni-) potente, ou, numa forma mais familiar, todo poderoso (porque podemos usá-los como sinónimos ou até podemos definir um pelo o outro se a quem estivermos a explicar seja compreensível dessa forma). Já me estou quase a perder também. Portanto, dizer que deus significa omnipotente, ou vice-versa, é em si uma definição se, a quem estivermos a explicar, passemos este mesmo significado, isto é, o “todo poderoso”. Tal como deus é definido por um ser todo poderoso, omnipotente é definido como a qualidade do todo poderoso, assim omnipotente pode ser definido por deus, desde que faça sentido no contexto em que é usado.

A seguir Abraão refere-se à primeira definição dada pelo dicionário que diz que omnipotente significa que pode tudo – o mesmo que todo poderoso, portanto. E passa a enunciar mais umas quantas questões sobre se a dona maria, como ele chama ao deus bíblico (o deus cristão suponho) pode ser maléfica, se pode destruir a humanidade, enfim, e por aí fora. Pela qualidade de omnipotente, esta dona maria pode fazer todas essas coisas. Isto é, tem esse potencial. Nada significa que realize todo esse potencial, tal como nós temos o potencial de jogar no euromilhões e sairmos vencedores, o que não signifique que isso vá acontecer. E eu sei que algumas questões parecem levantar paradoxos – se ela pode tudo, pode então levantar toda e qualquer coisa, então como pode criar algo que não possa levantar? Mas bem, como já disse, ela tem o potencial para criar algo desse género, mas temos de perceber que se ela o fizesse, para evitar o paradoxo, perdia a qualidade de omnipotência. O que à primeira vista parece um paradoxo, é na realidade um potencial paradoxo. Com a língua podemos divagar, disparatar, manipular palavras e sentidos a nosso belo prazer. É algo intrínseco à linguagem. A linguagem é (e eu sei que vou revelar alguma influência wittgensteiniana, mas já deviam estar à espera), como nós a conhecemos, um artifício criado por nós para nos ajudar a comunicar e não o contrário. Pode ser vista, a linguagem, como um jogo de cariz social, em que as regras são, tal como nós, orgânicas, e dependentes de grupo social para grupo social. O contexto é um objeto em que a linguagem é usada enquanto função para o grupo. Contexto neste caso engloba a situação concreta, para além dos membros do grupo e suas qualidades, atributos e toda a história individual (isto é, de cada membro) e coletiva. Tudo isto para dizer que, a linguagem enquanto função é melhor percecionada e compreendida por grupos com maior afinidade entre os seus membros. Usar a frase: “deus é omnipotente” entre um grupo de, por exemplo, religiosos cristãos, tem um significado para eles, que pode significar por exemplo – deus é todo poderoso; deus tem um poder ilimitado, portanto incompreensível; o poder de deus é incompreensível no sentido em que apenas nos é possível idealizar deus com um poder total dentro dos parâmetros do real que nós conhecemos – logo, alguém vir dizer a este grupo de religiosos cristãos que a afirmação “deus é omnipotente” é ridícula, de cariz paradoxal, ou que não tem rigor linguístico, não tem sentido dentro deste grupo específico, pois a palavra omnipotente tem a função que já referi anteriormente para este grupo. 

Revela inocência pensar que a linguagem tem um cariz universal, ou que todas as palavras têm de significar o mesmo para todas as pessoas. Uma palavra não é nada mais do que um sinal de algo; um marcador dum objeto, seja ele concreto ou abstrato. E a linguagem é idiossincrática, tal como nós, e apenas tem o sentido que nós lhe quisermos dar, independentemente de definições de outrem. A linguagem não é lógica ou transversalmente significativa. Não significa nada para além de si própria. É apenas uma função para facilitar a compreensão. Uma única forma de linguagem não é solução para o entendimento de todo e qualquer grupo de pessoas. Dizer que deus é omnipotente serve para passar o significado pretendido dentro do grupo de religiosos cristãos (continuando com o exemplo anterior) e ficam-se por aí. 

É claro que escrutinar estes significados e analisar de uma forma mais fria e distante uma forma de linguagem usada por um grupo específico levanta questões que podem parecer não fazer sentido, serem paradoxais ou ridículas, quando na verdade o sentido e significado da linguagem existe apenas dentro do grupo. Mas não deixa de ser divertido, eu admito isso, e Abraão é sem dúvida adepto do escrutínio linguístico, mas é um adepto demasiado fervoroso por vezes, e ele sabe. 

Bem, vou ficar por aqui que isto já foi muita linguística por hoje.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Sobre a semântica da omnipotência #14

Abraão vem quebrar aqui este nosso hiato (só de 5 dias, mas como sabem estou de férias, é algo superior a mim...) de posts para nos trazer, a meu ver, mais um assunto que cheira mesmo a Wittgenstein. Mas é claro, eu ultimamente tenho sentido Wittgenstein em todo o lado, por isso sou suspeito. Mas vou deixar-vos para ler o texto do nosso Abraão, e acho que amanhã, ou se calhar ainda hoje, vou-me inspirar nestas palavras e continuar esta pequena discussão semântica, linguística, religiosa, filosófica, wittgensteiniana, o que quer que lhe queiram chamar.

...

Vamos hoje então pensar sobre a omnipotência. Mais precisamente da de um suposto deus bíblico que, apesar de não ter género, é sempre referido no masculino. Para não estar sempre a chamar o dito de «um suposto deus bíblico», vamos chamar-lhe Dona Maria.

Vamos então considerar que a Dona Maria é omnipotente, sendo que a definição de omnipotência, segundo o priberam, 1. Que pode tudo; que tem poderes ilimitados, 2. Deus. Comecemos então pelo ponto 2.

Se a definição de omnipotente é deus, significa que não pode ser uma deusa? Significa que não pode ser um ser maléfico? Significa que não pode ser apenas um ser superior? Eu não sei quem cria estas definições, mas eu vou ignorar este ponto por achar demasiado incompetente. E desnecessária.

Avancemos então para o recuo. Aqui é que nos divertimos, ou pelo menos aqui é que alguns de nós têm a oportunidade de o fazer. Se a Dona Maria pode tudo, poderá criar uma pedra tão grande que nem ela mesmo possa levantar? Pode ela ser maléfica? Pode ela destruir toda a humanidade sem querer? Pode então nascer daqui a meia hora? Pode morrer? Pode dar uma visualização neste blog?

Haverá de haver quem proteste por estas perguntas serem ocas, sem importância e serem apenas acidentes linguísticos. Não concordo com nada disso, mas temos de ser sinceros: estas perguntas não colocam de forma alguma em causa a existência da Dona Maria. Mas temos de pensar mais seriamente sobre as definições que damos às coisas e as qualidades que lhes atribuímos. Dizer que a Dona Maria é omnipotente é, além de um alvo de perguntas como as anteriores, um paradoxo. Podendo tudo, pode até nem ser omnipotente... E se pode não ser omnipotente, não tem forma de poder não ser... Logo terá de ser... Logo a igreja vai aproveitar para sacar dinheiro aos fiéis, seja em formato de dízimo, seja em formato de velas em formato de órgãos...

Muito podia eu continuar aqui a divagar sobre a falta de rigor linguístico do clero, mas não o vou fazer. Pelo menos para já...

Abraão Esteves