terça-feira, 1 de agosto de 2017

Sobre a semântica da omnipotência #14

Abraão vem quebrar aqui este nosso hiato (só de 5 dias, mas como sabem estou de férias, é algo superior a mim...) de posts para nos trazer, a meu ver, mais um assunto que cheira mesmo a Wittgenstein. Mas é claro, eu ultimamente tenho sentido Wittgenstein em todo o lado, por isso sou suspeito. Mas vou deixar-vos para ler o texto do nosso Abraão, e acho que amanhã, ou se calhar ainda hoje, vou-me inspirar nestas palavras e continuar esta pequena discussão semântica, linguística, religiosa, filosófica, wittgensteiniana, o que quer que lhe queiram chamar.

...

Vamos hoje então pensar sobre a omnipotência. Mais precisamente da de um suposto deus bíblico que, apesar de não ter género, é sempre referido no masculino. Para não estar sempre a chamar o dito de «um suposto deus bíblico», vamos chamar-lhe Dona Maria.

Vamos então considerar que a Dona Maria é omnipotente, sendo que a definição de omnipotência, segundo o priberam, 1. Que pode tudo; que tem poderes ilimitados, 2. Deus. Comecemos então pelo ponto 2.

Se a definição de omnipotente é deus, significa que não pode ser uma deusa? Significa que não pode ser um ser maléfico? Significa que não pode ser apenas um ser superior? Eu não sei quem cria estas definições, mas eu vou ignorar este ponto por achar demasiado incompetente. E desnecessária.

Avancemos então para o recuo. Aqui é que nos divertimos, ou pelo menos aqui é que alguns de nós têm a oportunidade de o fazer. Se a Dona Maria pode tudo, poderá criar uma pedra tão grande que nem ela mesmo possa levantar? Pode ela ser maléfica? Pode ela destruir toda a humanidade sem querer? Pode então nascer daqui a meia hora? Pode morrer? Pode dar uma visualização neste blog?

Haverá de haver quem proteste por estas perguntas serem ocas, sem importância e serem apenas acidentes linguísticos. Não concordo com nada disso, mas temos de ser sinceros: estas perguntas não colocam de forma alguma em causa a existência da Dona Maria. Mas temos de pensar mais seriamente sobre as definições que damos às coisas e as qualidades que lhes atribuímos. Dizer que a Dona Maria é omnipotente é, além de um alvo de perguntas como as anteriores, um paradoxo. Podendo tudo, pode até nem ser omnipotente... E se pode não ser omnipotente, não tem forma de poder não ser... Logo terá de ser... Logo a igreja vai aproveitar para sacar dinheiro aos fiéis, seja em formato de dízimo, seja em formato de velas em formato de órgãos...

Muito podia eu continuar aqui a divagar sobre a falta de rigor linguístico do clero, mas não o vou fazer. Pelo menos para já...

Abraão Esteves

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