sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Sobre a linguagem (outro) II

Vou só comentar pequenas coisas relativamente ao último comentário de Abraão sobre os 2 últimos posts. Abraão disse-me que o texto não era dos melhores que já tinha escrito; eu estava ciente disso. Estava ciente de que, passando eu e ele por um período de um inacesso de inspiração, esse post foi escrito por Abraão com pouco cuidado e rigor; o que ele confirmou como sabem. Estava bem ciente, mas, devido ao período fracamente inspirador, e depois de ter lido o tal post de Abraão, apeteceu-me comentá-lo sem grandes medidas, e divagar um bocado sobre aspectos da linguagem, uma vez que o post estava intimamente relacionado com o tema.

Agora, sobre a parte que eu negligenciei um pouco no meu comentário, acerca da crítica de género e o seu uso (do género) na nossa linguagem, e que eu bem sei que é um tema que Abraão tem em grande consideração, sobre isto apenas referi que era igual o uso de deus ou deusa, e que tendíamos a usar deus porque o masculino tende a ser usado em casos não familiares bla bla bla qualquer coisa assim. No entanto não me tinha apercebido que, enquanto substantivo, não podíamos usar a palavra omnipotente no feminino. Por exemplo, "A omnipotente é bondosa" estará errado, de acordo com o dicionário. Agora se dissermos, "A omnipotente nave é bela" é correto, pois estamos a usá-lo como adjetivo. Acho que era isto que Abraão queria criticar. A forma como as raízes da problemática do género são profundas ao ponto do dicionário não aceitar que esta palavra seja usada no feminino enquanto substantivo. Nada contra a crítica, admito que não me tinha apercebido disto.

Depois Abraão refila porque eu digo que ele está-se a afastar do contexto linguístico, quando diz "porque não apenas um ser superior?" quando se refere a usar deus como definição de omnipotente. Queria apenas clarificar que, dizer "ser superior" não é o mesmo que dizer deus (ou deusa) porque "ser superior" implica um determinado grau de relatividade, enquanto que, no contexto linguístico, isto é, na definição de uma palavra como omnipotente (relembrando, significa "todo poderoso") não pode existir nenhum grau de relatividade, pois é algo absoluto. Definir omnipotente como "ser superior" é muito incorreto, porque não revela o absolutismo que a palavra necessita, coisa que "deus" revela, e por isso é aceite como definição.

Só mais uma questão que Abraão falou sobre algo que eu disse, "Também já me estou quase a perder", e que ele respondeu que ele não se tinha perdido... Essa frase não era para ser lida dessa forma. Não era minha intenção insinuar que o leitor do meu texto se estava a perder, ou ainda que o autor do texto que eu estava (mais ou menos) a criticar se tinha perdido ele próprio. Nada disso. Mas agora vejo que pode ser visto dessa forma. Olhem, no entanto, para essa pequena afirmação como uma espécie de self referencing piece of writing; um pedaço de "meta-escrita" para o meu consciente/inconsciente ou ainda para o meu "eu que escreve/eu que lê". Quero eu dizer com isto que, enquanto o meu "eu que escreve" escrevia o texto, o meu "eu que lê" lia-o; e o meu "eu que lê" afirmou que se estava a começar a perder, ao que o meu "eu que escreve" respondeu, da maneira que lhe é própria - isto é, por escrito - que ele também se estava quase a perder também. E é esta a história dessa frase. Se calhar agora é que ficámos todos perdidos, não foi?

Queria ainda escrever sobre o enigma que Abraão deixou, mas tenho de admitir que não estou dentro daquele jogo de palavras, de forma nenhuma... Vou apenas assumir que a caneta a que ele se refere é a "caneta" que ambos conhecemos (e que o leitor me vai desculpar, mas que não vou explicar o que é), e que essa "caneta" e as ações que eu realizo com ela (o mistério para o leitor aqui torna-se ainda mais misterioso decerto ☺) me fazem rabiscar erros por me corroer o ser - a minha entidade, portanto - e que esses erros são letais - de morte - e todos poderosos - deus - ou qualquer coisa assim?? Um enigma bastante enigmático, tão enigmático que acho que acabei por dizer só parvoíces sobre ele.

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