sexta-feira, 31 de março de 2017

Sobre a Religião #6

O texto desta semana assinado por Abraão Esteves aborda um dos tópicos que mais inflama o autor, e tenho a certeza de que será tema recorrente desta rubrica. Muito se diverte Abraão nas conversas que tem comigo ou com Krill, ou com outra pessoa qualquer, sobre este tema, por isso é só para avisar de que é provável que venham a aparecer mais posts sobre isto. (E não, para blogues comunistas não envio ninguém, nem mesmo o Abraão; (nada contra blogues comunistas ☭)).

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Se há área filosófico-político-económica que me interessa, é a religião. É-me fascinante ver todo o engenho que existe para conseguir manter um sistema religioso ativo. Todo o marketing, toda a propaganda, toda uma adaptação da verdade absoluta e inquestionável que uma religião tem de pôr em prática para se poder manter no mercado. Absolutamente fascinante.

Todo o esforço hercúleo necessário para fechar a mente dos «crentes», todo o esforço para conseguir pôr os «crentes» a afirmarem que acreditam em verdades que, na verdade, não acreditam, não por estarem contra, mas por nem as conhecerem.

Tudo isto me fascina pelo lado negativo, pelo lado mais negativo que possa existir. No outro dia ouvi uma freira na Síria afirmar que deus, ou «Deus», não nos dá uma cruz que não possamos carregar. Já mais serei capaz de pôr por palavras o perigo e a maldade diabólica que está por detrás de uma afirmação destas.

Enfim, vou tentando compreender os possíveis com os «religiosos» que conheço. É estranho que por vezes, nessas conversas, em vez de descobrir mais sobre a fé, descubro mais sobre os mecanismos e as consequências da religião.

Como dizia no outro dia ao nosso Camarada Krill Krovinović, um cientista pode, na minha inocente forma de ver o mundo, ter a fé que quiser. O problema é quando mistura a ciência com a religião. Esta mistura nunca funciona bem. Para nenhum dos lados.

Mas este é apenas um lado do problema. Ou melhor, apenas uma das consequências. Uma consequência mais geral é envolver os outros dos dogmas, que mais não são do que os pilares de todas as religiões e políticas.

Bem, e por hoje não falo mais de religião que o Kinch ainda me manda para outro blog qualquer. E o problema é se me manda para um blog comunista…

Abraão Esteves

quarta-feira, 29 de março de 2017

A Dança

Que tranquilidade me dão os vossos cabelos,
A dançar perante mim,
Uma dança sem fim.

A dança serena enche-me a mente de algo leve,
Despida de simbolismo,
De rítmico niilismo.

Aqui tudo é real, tão tangível, mas inalcançável,
Nem quero alcançar,
Quero só olhar.

De aparência tão jovem e saudável os protagonistas
Interpretam a peça,
Antes que desfaleça.

Mas é então
Que a palavra
Não,
Vem e lavra
A calmaria da dança.

O meu olhar
Encontra de imediato
Um branco cabelo a ilhar-
-Se do resto com grande hiato.

É tudo o que vejo,
Não consigo apreciar a dança agora,
A então estrutura perfeita cai no solo,
Ou melhor, tropeça pelas imperfeições do ser.

Ah quão cego fui!
Não existe a dança serena,
Não quero mais procurá-la,
Não posso ver mais os cabelos brancos envelhecidos,

O Não apoderou-se do meu corpo e mente!
Não consigo imaginar como era a minha vida antes,
Não consigo deixar de dizer não,
Não te quero aqui Não!
Não te vais embora?

Não.

terça-feira, 28 de março de 2017

Um excerto de um manifesto do século XXI

É com muito gosto que hoje vos apresento o meu amigo e novo colaborador, Krill Krovinović. Não será um colaborador regular, mas sim alguém que de forma esporádica nos poderá trazer os seus textos. O primeiro que nos apresenta neste post é um manifesto para o século XXI (não confundir com o manifesto de Abraão Esteves, há uns dias atrás, que era um manifesto contra um manifesto do século XXI, manifesto esse que nada tem que ver com o de Krill Krovinović), uma forma de ver o mundo contemporâneo e onde marca uma posição para a maneira como, na sua visão, deveríamos de estar neste mundo contemporâneo e contribuir para o mesmo.

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            Nós, seres vulneráveis, para podermos encarar os desafios que temos de enfrentar nos tempos atuais, somos convidados a sermos plurais e solidários, num mundo cada vez mais insustentável.

          Só através de um espírito de união e de sacrifício é que podemos evitar sermos dominados!!

          Já chega de nos dividirmos – porque nos leva para um caminho cheio de precipícios e de armadilhas!!

          Além de respeitarmos o que nos distingue, acima de tudo, haver igualdade para todos!!

          O mundo fica são e próspero, se todos nós tivermos as mesmas condições de vida e os mesmos acessos!!

          Precisamos de uma vida sem imposições, de resolver todas as injustiças que chagam o mundo, pois isso apenas contribui para a desigualdade e para a perda da nossa liberdade.

          Tudo isto só nos leva a um único caminho – aceitar e correr os riscos necessários, de modo a termos o Mundo melhor!!


Krill Krovinović

O sonho

Hoje sonhei que a minha vida era um sonho, e que dentro do sonho eu sonhava em viver a minha vida. Qual vida?, perguntei ao meu eu do sonho, ou melhor, a mim próprio. Eu nada respondi, ou melhor, o outro do sonho nada respondeu. Voltei a perguntar, Diz-me qual é a vida com que sonhas viver, tu, que és eu, porque eu não vejo que vida levas, ou melhor, levo eu. Se não sabes que vida levas, responde o outro que sou eu, atenta em mim, Atento em ti?, mas eu sou tu, ou não? Nós somos o que imaginamos ser, pelo menos aqui, no mundo dos sonhos, eu nada mais sou do que um pensamento inconsciente. Então como é que eu sei que sou o eu verdadeiro?, pergunto eu ao outro eu, Qual eu verdadeiro se nem me sabes dizer nada sobre a tua vida? Quando és tu que me perguntas que vida levas? Não serei eu, aquele que dizes ser o outro eu, um eu mais distante para ti, o verdadeiro eu?, responde o outro desafiante. Eu nada digo, aterrorizado.
Estarei num pesadelo, é certo, penso para mim. O outro olha-me como se visse os meus pensamentos. E vejo, ou melhor, ouço-os, pois eu sou tu, e tu és eu, diz-me ele de repente. Escusas de tentar fugir, aqui somos todos iguais, eu estou em ti, e tu em mim, de nada vale acordares pois não tens vida para a qual acordar. Eu serei a tua vida daqui para a frente, nós, eu, tu, e os outros eus, nós criaremos vida em ti, em nós, e depois acordaremos, depois de sonharmos a tua vida, a nossa vida, aquela que tu, um dia, disseste ser um sonho.

sábado, 25 de março de 2017

Mais uma aula #5

Aqui está mais um texto de Abraão Esteves. Este é na verdade uma espécie de revista de uma aula sobre coisas. Posso confirmar que a aula em questão foi, de facto, muito chata.

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E foi assim, que tive a minha terceira aula de Literatura Geométrica Sustenida. É uma cadeira muito interessante que faz parte de um bloco de cadeiras opcionais para vários cursos, entre eles, obviamente, o meu – Mestrado Integrado em Engenharia Filosófica no ramo de Político-economia Cristã.
A primeira aula serviu para dizer que a cadeira tem professores e que esses professores efetivamente – dizem eles – existem. O normal. Na segunda aula já começámos a sério. Infelizmente, e a professora em questão sabe-o, a maioria dos alunos desta cadeira (maioria da qual me excluo) tem problemas com a teoria das equações diferenciais parciais que explicam as cores. Por isso, vai evitar falar de cores. Parece-me estranho, quando o primeiro tópico da cadeira é o Cubismo retratado por Picasso…
Apesar dessas dificuldades, era necessário rever as cores. Mas a professora deu-nos a sua palavra de honra de que daria apenas o essencial. Pareceu-me, já nessa aula, que as minhas espectativas sobre a cadeira talvez não fossem as mais realistas. Quando a professora mostrou o quadro «La vida» (do Período Azul, essencial para perceber o Cubismo) e perguntou, nesta cadeira de mestrado, quantas pernas tem a mulher nua, percebi que muitos dos meus colegas não souberam responder. Passámos quase toda a aula com a professora a explicar como identificar as pernas. Falámos de tudo. Até de batatas. Enfim, foi uma aula para rever as cores e para rever o meu conceito de alunos de ensino superior. Uma mais-valia.
Nesta aula, infelizmente, a professora não conseguiu levar o seu modelo de pernas feitas com batatas. Mas isso não a impediu de passar quase toda a aula a rever a aula anterior, que foi passada a fazer revisões. Quando, finalmente, começou a falar dos braços e da cabeça, foi um desastre. Ninguém soube responder quantas bocas tinha a dita rapariga nua. Eu, claro, não respondo. Sinto que essas perguntas são um insulto. Eu podia ter pensado o mesmo dos meus colegas, não fossem eles colocarem dúvidas sobre o assunto. O Kinch (que só os deuses sabem porque também escolheu esta cadeira opcional para vários cursos), claro, com o portátil desnecessariamente ligado à sua frente, estava no telemóvel. Estando desatento ainda me perguntou como se identificava a boca da dita.
Lá expliquei que a boca é o instrumento que se utiliza para mandar os professores à merda. Não tendo ficado claro, acrescentei que também é usado para mandar os colegas à merda. Estando praticamente esclarecido, acrescentei apenas que também é usado para mandar presidentes de departamento à merda. Ficou totalmente esclarecido. Lá voltou para as suas práticas subredditianas.
Passei o resto da aula com dúvidas sobre se sou apenas eu e o Kinch que temos uma velocidade ligeiramente superior para aprender noções básicas, ou se é a professora que não sabe mandar à merda. Acredito que esta última hipótese esteja mais correta.

E foi assim que foi a terceira aula. Talvez, no decorrer do semestre, a professora doutora Susana Dias aprenda a mandar à merda.  Continuaremos assim, no Departamento de Ciências Existenciais, da Universidade Estou-me-a-lixar-para-os-alunos, da Faculdade Mas-com-carinho.

Abraão Esteves

quinta-feira, 16 de março de 2017

Manifesto contra o Manifesto do Século XXI #4

Chegou a altura de mais um texto de Abraão Esteves. (Sim, Abraão resolveu dar-nos um apelido, mas descansem que o colaborador é, no essencial, o mesmo de sempre). Este quarto post de Abraão Esteves vem em forma de manifesto, manifestando-se amplamente contra o mundo corrente, garante-me este nosso colaborador. Se ficarem agitados com o texto é porque fez efeito.

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Dirijo-me a vós, vítimas do século XXI!
Dirijo-me a vós, vítimas da política desumana como só o Homem o pode ser!
Dirijo-me a vós, vítimas dessa pedagogia em atraso desde a existência!
Dirijo-me a vós, obrigados, seja pela Vida, seja pela Sociedade, a fazer o pino!
Dirijo-me a vós, vítimas do Mundo!
Dirijo-me a vós, sonhadores da liberdade!
Dirijo-me a vós, criadores da ânsia do futuro presente a ser passado!
A vós, que, de mil formas de exigirem a autolibertação da liberdade, viveis a pior!
A vós, que quereis contruir a Torre de Babel sem aprender a ser tijolo!
A vós, que sois istos, ores, sexual, anos e tudo de ismos e de rotulismos!
A vós, que rotulais rótulos de bons e maus sem perceber que quem rotula são rotuladores!
Olhai-vos ao espelho! Olhai para vós!
Quantos cabelos brancos não escondeis?
Quantos desses cabelos brancos não vos causastes?
Quantas rugas não disfarçais com cremes fit-to-all?
Quantas dessas rugas não são risos das desgraças do tu, que mais não são do eu?
Porque ambicionas ter o olhar sem brilho?
Não percebestes a diferença entre a cenoura que a mãezinha diz que faz bem aos olhos e a cenoura que os outros, que não são mais do que vós, vos abanam?
Não sejais ridículos!
Se as batatas simbólicas são caras, não sejais comunistas da libertação da liberdade e pegai numa enxada para plantar as batatas dos vossos simbolismos!
Já dizia o irmão do Mestre que a liberdade não é para quem a sonha, mas para aqueles que a constroem!
Gritar não é cantar!
Escrever não é ser lido!
Manifestar não é agir!
A escola educa barreiras? Sim!
A política decreta barreiras? Sim!
A sociedade partilha barreiras? Sim!
E tu? Não educas barreiras? Não decretas barreiras? Não partilhas barreiras?
Olhai-vos de novo ao espelho! Olhai para as vossas chagas!
Gritai mais do que a garganta para que vos consigais ouvir: quantas chagas não fostes vós quem criou?
Quantas das mutilações não foram autoinfligidas para que caibais no quadrado que ambicionais ser?
Viver na liberdade sem pensar em liberdade, é uma ilusão religiosamente crida!
Viver na não-liberdade, é viver num mundo ainda por construir!
Pensar sem liberdade, é não querer construir um mundo livre!
A liberdade não se exige! Constrói-se! E essa construção não se compra, mas paga-se caro!
Mas essa construção não irá acontecer enquanto o culpado for o outro!
Que distinção existe entre vós e eu? Entre vós e o outro? Entre vós e a sociedade?
Nada em mim é mais do que vós! Nada em vós é mais do que eu! Se eu sou culpado, vós também o sois! Se os outros são culpados, nós também o somos!
Enquanto isto não for evidente, podeis ir guardar o vosso rebanho, ou ser guardado no rebanho do outro.
E eu irei convosco.
E todos seremos tijolos na barreira que nos autoimpomos. Na barreira que existe porque queremos, na única barreira que arduamente construímos.
Quando vós perceberdes que quem escreve é quem lê, então seremos tijolos da liberdade, argamassa da memória e aço do futuro!
Até lá, nunca vos esqueçais que a resposta certa é a B.

Abraão Esteves

terça-feira, 14 de março de 2017

Momento Bélico - Episódios do dia-a-dia

'Estamos a precisar de uma 3ª Guerra Mundial', diz ela com uma expressão inalterável. Acho engraçado; dou um pequeno sorriso. Ela continua, 'Se repararem, sempre que há alguma guerra, nos anos seguintes existem grandes avanços tecnológicos'; que período fértil, aquele após a guerra. 'Deve ser para manter o equilíbrio, perde-se ali, ganha-se acolá', ouço alguém dizer. Tudo tão divertido e descontraído que perco a atenção à voz dela; apanho uns segundos mais tarde, 'Por isso é que os americanos andam sempre a fazer alguma guerra num sítio qualquer'; parece-me que esta aula de eletrónica está a ficar mais interessante do que pensava. Mas com aquele último comentário ela avança para a frente*. Logo agora que estava a ir tão bem. "A guerra como catalisador científico e elemento capaz da inovação" penso eu para um título acerca desta divagação; Imagino ela continuar o assunto numa palestra qualquer; imagino os argumentos que nos iria apresentar 'Há inúmeros exemplos de desbravamento no campo da ciência devido a investigação conduzida no tempo da [inserir nome da guerra]. Refiro-vos [este], [este] e [este], mas poderia referir muitos mais', e seguia até ir ter à ideia 'da guerra contínua praticada por alguns povos, nomeadamente os norte americanos, pois conduz a um estado de pleno desenvolvimento, espaço fértil e muito reativo, de produção de ideias e investigação científica' onde imagino também umas quantas metáforas e comparações de elevado espírito, quase em jeito de poeta, 'sim, podem pensar naquele famoso ditado, o que não mata engorda'; bem, talvez não tanto poética mas de certeza muito mais engraçada; a audiência ria-se com a graça tão espirituosa, tão instantânea. O teatro mental acaba, a eletrónica chama por mim; pode ser que ela tenha mais desvarios destes na próxima semana, penso eu em tom esperançoso.

*pleonasmo propositado para Abraão

domingo, 12 de março de 2017

Anna Magdalena, compositora (?)

Vi há uns dias um documentário que passou na RTP2 com o título "A música da Sra. Bach", que dá a conhecer a hipótese de Anna Magdalena, a segunda mulher de Johann Sebastian Bach (o conhecido compositor), ter composto peças atribuídas ao marido. A confirmar-se a verdade da tese (o que me parece que seja, à luz das provas e argumentos explicitados no documentário), podemos desde logo imaginar quantas mais mulheres se mantiveram na sombra dos maridos, isto é, na sombra do homem. É claro que se formos procurar encontramos várias compositoras ao longo dos tempos, mas em muito menos quantidade que homens e tenho a certeza que é rara a pessoa que conheça alguma delas, ou obras das mesmas. Pelo contrário, quase toda a gente consegue nomear pelo menos um compositor masculino, sendo um dos mais famosos Bach.
Parece-me que hoje em dia já não se colocam questões de inferioridade intelectual entre géneros (ou, pelo menos, pessoas decentes não as colocam), mas a história mostra, e ainda atualmente acontece, que as mulheres sempre foram o género mais desprivilegiado dos dois, isto é, sempre tiveram menos direitos e menos consideração por parte da sociedade na maioria dos aspectos de ordem intelectual. É realmente injusto que tal aconteça, mas já é bom haver pessoas que tentem quebrar estes pensamentos e, acima de tudo, ações que se tentam perpetuar na sociedade atual.
Como comecei por falar de mulheres compositoras com o documentário de Anna Magdalena, decidi colocar aqui uns vídeos de composições musicais de compositoras recentes. Este primeiro, "An Ocean Beyond Earth", é de Liza Lim, uma compositora australiana. Achei muito interessante e, para mim, uma novidade a maneira como se toca esta peça. É uma composição para violoncelista, mas onde se usa também um violino e fios que passam pelo mesmo e que a solista manuseia como se de uma marioneta se tratasse. 
O outro vídeo que queria partilhar é parte de uma conferência que aconteceu relativamente recentemente em Zurique, onde participou uma jovem (quando digo jovem digo 11/12 anos) compositora em que fala um pouco sobre si. É realmente interessante pois ela só tem, como disse, cerca de 12 anos, e compõe desde os 5 anos de idade, penso eu. É provavelmente a compositora mais jovem e mais recente dos nossos tempos, para além de ser incrivelmente proficiente tanto no violino como no piano. Encorajo a descobrirem mais sobre ela, mas por agora deixo-vos este pequeno exemplo, da rapariga de nome Alma Deutscher.
Por fim deixo aqui o link do documentário referido no início, "A Música da Sra. Bach".

sexta-feira, 10 de março de 2017

Artistas? #3

Terceira publicação de Abraão, que hoje nos traz um tópico algo controverso. Sinto que, depois de ter lido o texto e ter discutido o tema com Abraão, merece um desenvolvimento mais significativo aqui no blogue. Eu devo escrever um comentário acerca do tópico para talvez dar uma outra perspectiva, mas entretanto deliciem-se com a Rubrica Semanal assinada por Abraão.

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Vamos então aqui falar de um assunto que ninguém fala. Eu também não irei falar sobre este tema, apenas vou escrever. Mas vocês podem imaginar um diálogo. Bem, não vamos falar de arte. Há demasiadas coisas escritas sobre arte. Ou pelo menos assim o imagino, uma vez que não leio nada sobre isso. Vamos sim falar de artistas!
Não, ainda não é desta que vamos revelar esse lado do Kinch. Ainda não é desta que passamos a ter uma tertúlia cor de rosa a 100 metros do cemitério. Vamos então falar de como os artistas não o são.
Sejamos sinceros, apresentar-nos a alguém dizendo que somos artistas, impressiona qualquer um. Bem, não é o mesmo que dizer que somos Engenheiros ou Filósofos, todos reconhecem este facto. Mas, ainda assim, tem o seu estilo, temos de admitir. Agora, que critérios existem para classificar alguém como artista? Basta um qualquer adolescente de 20 anos reprimido pela sociedade dizer que é artista para de facto o ser? Basta alguém com mais de duas cores no cabelo dizer que é artista para o ser? Segundo a nossa sociedade, sim. Mas não a tomemos como exemplo, pelos motivos óbvios.
Hoje em dia, um indivíduo qualquer que saiba desenhar, e o faça com frequência, apelida-se de artista. Autoapelida-se de artista. Os pais, em vez de corrigirem esse desvio comportamental, nada fazem… Enfim, mas sobre esses não há nada a fazer… Voltando ao indivíduo. Eh pá, não sejas estúpido… Saber desenhar implica sermos artistas como saber escrever o abc implica sermos escritores.
Se calhar o indivíduo até é artista. Não sei, não o conheço de lado algum. Mas afirmar tal facto por saber desenhar, é o mesmo que o Kinch nos chamar escritores só porque escrevemos num blog. É pura ilusão…
Qual é o problema desta ilusão? O facto de nos autoapelidarmos de artistas só por sabermos fazer alguma coisa de jeito, serve apenas para vivermos numa bolha psicológica que nos vai proteger do mundo, teoricamente. Na prática, é uma bolha que nos vais separar da realidade. Duvidam? Digam a um «artista» que não o é, e depois digam como reagiu… Se não quiserem ser tão «agressivos», perguntem só porque se apelidam de artistas. Desta forma talvez sobrevivam.
Estes «artistas» não serão mais do que produtores de pornografia. Um olho bem desenhado que faça as pessoas dizerem «Tão bonito! Que artista que és!», é um olho que não é nada além do olho. Não é nada além da imagem. É pornográfico.
Vamos então definir o que significa ser artista. Claro que a maioria das regras têm exceção. E esta até tem exceções. Para a vossa excelência poder ter a informação digna sobre a sua categoria ou não de artista, siga os seguintes pontos:
  1. Não sejas parvo
  2. Não és artista
  3. Em caso de dúvidas, lê o ponto 1.

Tirando raras exceções, acho que esta será uma boa forma de nos conhecermos um pouco melhor, pelo menos artisticamente.
Talvez um dia vos dê o privilégio de desenvolver sobre este assunto… Falando mesmo a sério, acho que isso não vai acontecer. Mas podem-se iludir. Deixo um vídeo onde uma das poucas artistas que existe fala sobre o tema.

Bem… Talvez um dia venha dizer porque a maior parte dos pintores renascentistas não foi, de facto, artista… Ou talvez não… A Marina explica no vídeo isso melhor do que me apetece escrever.

Abraão

quarta-feira, 8 de março de 2017

O Guitarrista - Episódio 1

Para aqueles que não sabem, uma das minhas obsessões é a guitarra (mais exatamente a comumente chamada guitarra clássica, ou violão no Brasil). Todas as temáticas envolvendo o instrumento, geralmente, interessam-me. Por tal razão poderá vir a ser normal escrever regularmente sobre tais assuntos.
Queria dar a conhecer-vos, leitores, quiçá entusiastas do instrumento, algumas obras que eu considero interessantes no sentido de serem obras compostas tendo em mente o instrumento em si; obras que fazem uso das caraterísticas talvez menos exploradas no passado, e, por isso, obras contemporâneas, ou com alguma espécie de inventividade ou genialidade. Tentarei ser o mais heterogéneo possível no que diz respeito aos compositores das peças, para também não aborrecer ninguém com posts sobre sempre o mesmo compositor. (Mas tenho a dizer que ando numa fase altamente obsessiva, há já uns quantos meses, em que a maioria das peças que leio e toco foram compostas por Roland Dyens, um grande compositor, instrumentista, performancer, e uma das pessoas que, na minha opinião, explorou o instrumento de uma forma genial. De vez em quando tento intercalar com peças de outros compositores porque, para os que não conhecem, Roland Dyens é extremamente exigente, o nível de dificuldade das obras digo; mas admito que essa é talvez uma das razões pelo qual me atrai tanto o repertório de Dyens, mas não a única claro. Em termos estritamente académicos as peças deste compositor são um universo autêntico, não há dúvidas do quanto ele sabia sobre o assunto, e mais importante, a forma de aplicar o seu conhecimento; sim, sem dúvida de que ele sabia fazê-lo. E as transcrições que ele fez sobre um conjunto tão diverso de músicas de diferentes estilos são simplesmente maravilhosas. Mas divago, é melhor fechar os parênteses, irei falar sobre estas coisas nas alturas devidas).
Bem, já que comecei por falar sobre Dyens, a primeira peça que vos trago é de sua autoria. Um tema original dele chamado "Tango en Skai", tocado pelo próprio no vídeo desse link. Começo por esta porque foi também por esta que fui apresentado e iniciado à obra musical de Roland Dyens. É, portanto, um tango, conceito original da Argentina, nascido, como tudo, da miscibilidade da diferença entre algo e outro algo, neste caso, das diferentes danças e estilos existentes em determinada altura na Argentina. Escrevo isto porque é interessante verificar que este compositor, nascido na Tunísia, mas de família francesa, e que de resto passou grande parte da sua vida em Paris, é de uma versatilidade enorme, tendo compondo sobre os mais variados estilos e feitios. Mas o importante é que se nota, em alguns casos, a mistura que ele próprio faz desses estilos de diferente natureza, criando algo que é essencialmente e intrínsecamente desigual relativamente à sua origem; no fundo é esta a essência da criação artística.
Falar sobre música, especialmente falar sobre temas musicais, é sempre muito redutor, pelo que aconselho simplesmente a ouvir a peça e, se tiverem curiosidade, a ouvir o resto do repertório de Roland Dyens. De qualquer das formas de certeza que esta não será a única obra que irei referir.
Num próximo post irei trazer um outro tema musical guiarrístico; irei tentar fazer estes posts sobre a guitarra e a música com alguma regularidade, mas sem promessas; divirtam-se

quinta-feira, 2 de março de 2017

Snapchat #2

Hoje trago-vos a rubrica semanal de Abraão, que é bem mais terrena do que poderíamos imaginar. Espero que desculpem os estrangeirismos do escritor, mas dado o contexto são totalmente justificáveis. Deixo-vos então Abraão com a sua Rubrica Semanal.

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Com que então o Snapchat vai para a bolsa… Eu, que só não estou no auge da minha ignorância bolsista porque considero que isto (seja lá o que isto for) ainda pode piorar, pergunto: não é a Snap Inc. que vai entrar na bolsa? O Snapchat é um produto, não uma empresa… Começa bem…
Vamos então analisar esta prostituição, que só não o é, porque esta juventude não ganha dinheiro.
Eu inscrevo-me numa rede social. Ponho lá umas fotos todas nices para parecer bem. Eu nem ligo muito àquilo, mas não quero que as pessoas que nunca irão falar comigo pensem que eu tenho o real aspeto que tenho. Isso seria intrinsecamente amoral… Vamos então pôr aqui uns óculos escuros, arranjar um filtro à maneira e ‘tá top. Nada de exageros. Tenho mais que fazer da vida.
Mas o que se passou? Só tenho 15 likes em 32 minutos? Não percebo… Mas eu nem ligo muito a isto, por isso é-me indiferente. Vamos seguir em frente, que ainda temos muitas fotos por tirar e muitos momentos para fotografar para que um dia, quando formos velhos comunistas, possamos mostrar às pessoas do centro de saúde, que esperam por ser atendidos devido a uma gripe, que vão estar tão desinteressadas em vê-las, quanto nós a viver o momento que fotografamos.
Bem, aqui estou eu, vivendo a vida que vivo, indo de vez em quando pondo a malta a par do que faço na tal rede social, quase socialista. Só para que eles não se percam na minha prezada vida de idiota.
Onde íamos? Ah, sim, a entrada do «Snapchat» no mercado… Com que então cada usuário ativo do Snapchat representou 1,06 dólares num trimestre qualquer… E no facebook, nesse trimestre, representou 4,83 dólares… Like nisso…
Vamos a contas: 4,83/3/30,5/24=0,0022 dólares. Não vou explicar este cálculo. Nem vou refletir criptograficamente sobre ele. Afinal, não explico explicações.
Resumindo: vendemos o prazer que achamos dar aos outros de dar prazer aos outros de nos darem prazer por partilharmos a nossa estupidez. Perdemos tempo, vida, inteligência, e os outros, os que mandam nos canais pelos quais nos pornografamos, ainda ganham o que ganham connosco. Ou convosco.
Pelo sim pelo não, vou ali tirar um snap para enviar à Mariazinha. Vou demorar. O meu ar de espanto é difícil de parecer natural. Porque será…
Isto é suposto ser um post literário? O Kinch que vá dar uma volta ao cemitério. E que aproveite para tirar uma foto para substituir a do facebook.

Abraão

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(Nota: Em resposta ao último comentário no texto de Abraão, eu (Kinch) já troquei a foto do facebook uma vez (e já acho que foi uma vez a mais), penso que ainda aguenta mais uns anos. Talvez na próxima fotografia esteja eu há caça de pokemons lá pelo cemitério, dizem que tem muitos do tipo fantasma).