quinta-feira, 16 de março de 2017

Manifesto contra o Manifesto do Século XXI #4

Chegou a altura de mais um texto de Abraão Esteves. (Sim, Abraão resolveu dar-nos um apelido, mas descansem que o colaborador é, no essencial, o mesmo de sempre). Este quarto post de Abraão Esteves vem em forma de manifesto, manifestando-se amplamente contra o mundo corrente, garante-me este nosso colaborador. Se ficarem agitados com o texto é porque fez efeito.

...
        
   
Dirijo-me a vós, vítimas do século XXI!
Dirijo-me a vós, vítimas da política desumana como só o Homem o pode ser!
Dirijo-me a vós, vítimas dessa pedagogia em atraso desde a existência!
Dirijo-me a vós, obrigados, seja pela Vida, seja pela Sociedade, a fazer o pino!
Dirijo-me a vós, vítimas do Mundo!
Dirijo-me a vós, sonhadores da liberdade!
Dirijo-me a vós, criadores da ânsia do futuro presente a ser passado!
A vós, que, de mil formas de exigirem a autolibertação da liberdade, viveis a pior!
A vós, que quereis contruir a Torre de Babel sem aprender a ser tijolo!
A vós, que sois istos, ores, sexual, anos e tudo de ismos e de rotulismos!
A vós, que rotulais rótulos de bons e maus sem perceber que quem rotula são rotuladores!
Olhai-vos ao espelho! Olhai para vós!
Quantos cabelos brancos não escondeis?
Quantos desses cabelos brancos não vos causastes?
Quantas rugas não disfarçais com cremes fit-to-all?
Quantas dessas rugas não são risos das desgraças do tu, que mais não são do eu?
Porque ambicionas ter o olhar sem brilho?
Não percebestes a diferença entre a cenoura que a mãezinha diz que faz bem aos olhos e a cenoura que os outros, que não são mais do que vós, vos abanam?
Não sejais ridículos!
Se as batatas simbólicas são caras, não sejais comunistas da libertação da liberdade e pegai numa enxada para plantar as batatas dos vossos simbolismos!
Já dizia o irmão do Mestre que a liberdade não é para quem a sonha, mas para aqueles que a constroem!
Gritar não é cantar!
Escrever não é ser lido!
Manifestar não é agir!
A escola educa barreiras? Sim!
A política decreta barreiras? Sim!
A sociedade partilha barreiras? Sim!
E tu? Não educas barreiras? Não decretas barreiras? Não partilhas barreiras?
Olhai-vos de novo ao espelho! Olhai para as vossas chagas!
Gritai mais do que a garganta para que vos consigais ouvir: quantas chagas não fostes vós quem criou?
Quantas das mutilações não foram autoinfligidas para que caibais no quadrado que ambicionais ser?
Viver na liberdade sem pensar em liberdade, é uma ilusão religiosamente crida!
Viver na não-liberdade, é viver num mundo ainda por construir!
Pensar sem liberdade, é não querer construir um mundo livre!
A liberdade não se exige! Constrói-se! E essa construção não se compra, mas paga-se caro!
Mas essa construção não irá acontecer enquanto o culpado for o outro!
Que distinção existe entre vós e eu? Entre vós e o outro? Entre vós e a sociedade?
Nada em mim é mais do que vós! Nada em vós é mais do que eu! Se eu sou culpado, vós também o sois! Se os outros são culpados, nós também o somos!
Enquanto isto não for evidente, podeis ir guardar o vosso rebanho, ou ser guardado no rebanho do outro.
E eu irei convosco.
E todos seremos tijolos na barreira que nos autoimpomos. Na barreira que existe porque queremos, na única barreira que arduamente construímos.
Quando vós perceberdes que quem escreve é quem lê, então seremos tijolos da liberdade, argamassa da memória e aço do futuro!
Até lá, nunca vos esqueçais que a resposta certa é a B.

Abraão Esteves

Sem comentários:

Enviar um comentário