sábado, 25 de março de 2017

Mais uma aula #5

Aqui está mais um texto de Abraão Esteves. Este é na verdade uma espécie de revista de uma aula sobre coisas. Posso confirmar que a aula em questão foi, de facto, muito chata.

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E foi assim, que tive a minha terceira aula de Literatura Geométrica Sustenida. É uma cadeira muito interessante que faz parte de um bloco de cadeiras opcionais para vários cursos, entre eles, obviamente, o meu – Mestrado Integrado em Engenharia Filosófica no ramo de Político-economia Cristã.
A primeira aula serviu para dizer que a cadeira tem professores e que esses professores efetivamente – dizem eles – existem. O normal. Na segunda aula já começámos a sério. Infelizmente, e a professora em questão sabe-o, a maioria dos alunos desta cadeira (maioria da qual me excluo) tem problemas com a teoria das equações diferenciais parciais que explicam as cores. Por isso, vai evitar falar de cores. Parece-me estranho, quando o primeiro tópico da cadeira é o Cubismo retratado por Picasso…
Apesar dessas dificuldades, era necessário rever as cores. Mas a professora deu-nos a sua palavra de honra de que daria apenas o essencial. Pareceu-me, já nessa aula, que as minhas espectativas sobre a cadeira talvez não fossem as mais realistas. Quando a professora mostrou o quadro «La vida» (do Período Azul, essencial para perceber o Cubismo) e perguntou, nesta cadeira de mestrado, quantas pernas tem a mulher nua, percebi que muitos dos meus colegas não souberam responder. Passámos quase toda a aula com a professora a explicar como identificar as pernas. Falámos de tudo. Até de batatas. Enfim, foi uma aula para rever as cores e para rever o meu conceito de alunos de ensino superior. Uma mais-valia.
Nesta aula, infelizmente, a professora não conseguiu levar o seu modelo de pernas feitas com batatas. Mas isso não a impediu de passar quase toda a aula a rever a aula anterior, que foi passada a fazer revisões. Quando, finalmente, começou a falar dos braços e da cabeça, foi um desastre. Ninguém soube responder quantas bocas tinha a dita rapariga nua. Eu, claro, não respondo. Sinto que essas perguntas são um insulto. Eu podia ter pensado o mesmo dos meus colegas, não fossem eles colocarem dúvidas sobre o assunto. O Kinch (que só os deuses sabem porque também escolheu esta cadeira opcional para vários cursos), claro, com o portátil desnecessariamente ligado à sua frente, estava no telemóvel. Estando desatento ainda me perguntou como se identificava a boca da dita.
Lá expliquei que a boca é o instrumento que se utiliza para mandar os professores à merda. Não tendo ficado claro, acrescentei que também é usado para mandar os colegas à merda. Estando praticamente esclarecido, acrescentei apenas que também é usado para mandar presidentes de departamento à merda. Ficou totalmente esclarecido. Lá voltou para as suas práticas subredditianas.
Passei o resto da aula com dúvidas sobre se sou apenas eu e o Kinch que temos uma velocidade ligeiramente superior para aprender noções básicas, ou se é a professora que não sabe mandar à merda. Acredito que esta última hipótese esteja mais correta.

E foi assim que foi a terceira aula. Talvez, no decorrer do semestre, a professora doutora Susana Dias aprenda a mandar à merda.  Continuaremos assim, no Departamento de Ciências Existenciais, da Universidade Estou-me-a-lixar-para-os-alunos, da Faculdade Mas-com-carinho.

Abraão Esteves

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