segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Apresentação às Funções #1

É com muito gosto que este blogue publica o primeiro texto de Abraão (pseudónimo), o escritor de quem tinha já falado numa anterior publicação. Ele irá trazer-nos uma rubrica semanal de temáticas diversas. Quando lhe perguntei como seria a melhor forma de se descrever ele respondeu, e passo a citar, "Eu não gosto de formalidades. Nem gosto de seguir uma linha fixa na minha forma de pensar e de escrever. Nem gosto de ser obrigado a escrever 'posts' de conteúdo literário e por isso nunca o farei". Acho que podemos ficar ansiosos pelos textos de Abraão, entretanto, fiquem com o primeiro.

...

Perdoem-me! Perdoem-me! Eu tentei! Eu tentei! Eu tentei… Como é que isto aconteceu?... Ele tinha-me prometido! Ele ia contar… Quantos eram? Cinquenta? Não… Não… Eram dez! Ele ia contar dez! Ele tinha-me prometido que ia contar! Não eram cinquenta! Eram dez! Perdoem-me… Eram… Eram dez… Nós tínhamos, aqui mesmo, neste mesmo sítio, aqui onde estamos a falar… Nós tínhamos falado… Ele olhou-me nos olhos e prometeu-me… Ele ia contar dez… Agora só resta fumo e cinzas… Fumo e cinzas… Não… O que eu fiz… Eu devia… Não… Perdoem-me… Mas eu tentei… Dez! Tanto fumo… Ele tinha-me prometido que ia contar até dez… Um, dois, três, quatro… Como? Um sonho! Sim, de certeza que isto é um sonho! Ele jamais faria uma coisa dessas! Muito menos… Muito menos depois de me ter prometido! Ele prometeu-me! Aqui mesmo! Ele prometeu-me que ia contar dez! Por isso… Por isso é claro que isto é um sonho! Jamais… Tanto fumo… Jamais eu e a mulher entregaríamos a nossa vida a alguém tão… Tão maléfico… Tão vingativo… Tão… Tão humano… Já mais! Por isso, tudo isto só pode ser um sonho! Vamos rir! Vamos rir! Estas cinzas… Este fumo… Uma mera ilusão… Um sonho… Não… Eu não o devia ter confrontado… Eu não devia ter-lhe tentado chamar à razão… Eu… Mas o que podia eu ter feito? Julguem-me! Julguem-me! Matem-me! Mas eu não soube como agir… Nunca pensei… Mas ele era tão justo… Não! Como é que ele me pode fazer isto! Como é que ele pode fazer-lhe isto! Eles estavam inocentes! Ele ia contar dez! Como é que um ser pode ser tão diabólico!! Tão… Tão HUMANO!...

E agora? O que há a fazer… E vejo tanto fumo… Agora… Agora… Agora vamos fingir. Vamos fingir que este fumo não existe… Tudo isto não se passou. E eu e a mulher teremos um filho! Sim! Um filho! Custa a acreditar, não é?! Mas ele prometeu! E… E ele cumpre sempre a palavra, certo? E… E seremos uma família feliz, como todas as outras…

Ele prometeu… Eles talvez fossem culpados… Talvez merecessem… Sim… Sim. Eles mereceram! Ele prometeu-me! A mim! Nos meus olhos! Eles deviam morrer! Agora… Agora são cinzas… Sim… Ele foi justo.

Abraão

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