domingo, 16 de julho de 2017

Abraão Também Regressa #12

Bem, aqui vem mais um post de Abraão. Depois desta pausa Abraão disse-me que se demitia da sua crónica/rubrica semanal, mas que quando tivesse algum tópico interessante fazia um texto de vez em quando. Aqui está ele. (Pequeno contexto sobre a parte dos milhões gastos no quilograma aqui.)

...

O momento está a chegar. Mas vamos tentar não pensar nisso.

Existe tanta coisa para ser pensada. De certeza que até chegar a hora da verdade - ou melhor, da mentira (ou melhor, da ignorância) - nos vamos conseguir entreter.

Não tenho pensado muito no sentido de vida. Será que deixei de ter sentido de vida? Claro que não... Será que uma ideia deixa de existir por deixar de ser pensada? Muito provavelmente não... Se não, como a conseguiríamos relembrar? Tem de estar armazenada algures, certo? Mas onde? Serão as ligações neuronais que estabelecerão ideias? Depois terei de ir ver à Wikipédia... De certo que a Wikipédia haverá de saber. Mas até lá irá chegar o tal momento... Mas não pensemos nisso já... Não há razão para estar a sofrer por antecipação.

Como é que Sartre não levava em conta a influência psicológica na sua teoria de existencialismo? Todos os traumas de infância (e o Kinch que o diga...) afetam a forma de vermos e decidirmos o mundo. Freud já devia ter descrito as suas ideias no tempo de Sartre. Serão da mesma época? A Wikipédia também haverá de ajudar nisso...

Falta pouco... Falta pouco...

Todas as semanas é o mesmo stress... Mas como posso eu mudar o mundo? Como posso eu fazer com que as pessoas se apercebam da realidade? Como posso eu fazer com que as pessoas percebam as suas incompetências científico-laborais?

Chegou... Lá pedi os duzentos gramas. Como de costume, uma cara de quem acha que ouviu alguma coisa errada... Não há remédio... Vai ser como todas as semanas... Porque me sujeito eu a isto? Mas o pior está por vir...

«Pode ser duzentas e vinte?»

Como? Como?! Depois de todos os milhões de dólares e de todo o esforço da comunidade científica em tentar estabelecer o valor do quilograma de forma a que não dependa de um objeto físico... Tudo para que essa sétima unidade básica do Sistema Internacional deixe de depender desse peso de mercearia feito de uma liga de patina-irídio que também é conhecido por Protótipo Internacional de Quilograma...

Por um lado, estão a tentar calcular a quantidade de átomos numa esfera de silício-28 cristalino puro que caso caia ao chão transforma-se numa despesa de vários milhões... Tudo para fixarem um novo número de Avogadro... Por outro lado, estão a usar uma balança de Kibble para, com o auxílio de efeitos quânticos, fixarem uma nova constante de Planck. Tudo para, em conjunto, definirem - ou mais epicamente: redefinirem! - o valor de quilograma para que este não dependa de algo físico...

Todo este esforço para eu pedir duzentos gramas de queijo e ouvir «Pode ser duzentas e vinte?»... Camões haverá de estar a dar voltas no caixão (esteja ele onde estiver, se ainda estiver) por este povo não saber que grama é um substantivo masculino. Ainda por mais, ignoram por completo este esforço quase hercúleo (ok, nem perto disso, mas é efetivamente caro) além de ignorarem o erro associado à medida! E eu bem vi que no LCD da balança aparecia duzentos e dezoito gramas!

Como é suposto eu continuar a viver suportando isto!

Mas sim, pode ser isso...

E aqui estou eu a ignorar que as máquinas devem estar mal taradas para que dessa forma eu pague mais...

É por estas e por outras que eu não compro queijo...

Abraão Esteves

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