Bem, aqui vem mais um post de Abraão. Depois desta pausa Abraão disse-me que se demitia da sua crónica/rubrica semanal, mas que quando tivesse algum tópico interessante fazia um texto de vez em quando. Aqui está ele. (Pequeno contexto sobre a parte dos milhões gastos no quilograma aqui.)
...
O momento está a chegar. Mas vamos tentar
não pensar nisso.
Existe tanta coisa para ser pensada. De
certeza que até chegar a hora da verdade - ou melhor, da mentira (ou melhor, da
ignorância) - nos vamos conseguir entreter.
Não tenho pensado muito no sentido de
vida. Será que deixei de ter sentido de vida? Claro que não... Será que uma
ideia deixa de existir por deixar de ser pensada? Muito provavelmente não... Se
não, como a conseguiríamos relembrar? Tem de estar armazenada algures, certo?
Mas onde? Serão as ligações neuronais que estabelecerão ideias? Depois terei de
ir ver à Wikipédia... De certo que a Wikipédia haverá de saber. Mas até lá irá
chegar o tal momento... Mas não pensemos nisso já... Não há razão para estar a sofrer
por antecipação.
Como é que Sartre não levava em conta a
influência psicológica na sua teoria de existencialismo? Todos os traumas de
infância (e o Kinch que o diga...) afetam a forma de vermos e decidirmos o
mundo. Freud já devia ter descrito as suas ideias no tempo de Sartre. Serão da
mesma época? A Wikipédia também haverá de ajudar nisso...
Falta pouco... Falta pouco...
Todas as semanas é o mesmo stress... Mas
como posso eu mudar o mundo? Como posso eu fazer com que as pessoas se
apercebam da realidade? Como posso eu fazer com que as pessoas percebam as suas
incompetências científico-laborais?
Chegou... Lá pedi os duzentos gramas. Como
de costume, uma cara de quem acha que ouviu alguma coisa errada... Não há
remédio... Vai ser como todas as semanas... Porque me sujeito eu a isto? Mas o
pior está por vir...
«Pode ser duzentas e vinte?»
Como? Como?! Depois de todos os milhões de
dólares e de todo o esforço da comunidade científica em tentar estabelecer o
valor do quilograma de forma a que não dependa de um objeto físico... Tudo para
que essa sétima unidade básica do Sistema Internacional deixe de depender desse
peso de mercearia feito de uma liga de patina-irídio que também é conhecido por
Protótipo Internacional de Quilograma...
Por um lado, estão a tentar calcular a
quantidade de átomos numa esfera de silício-28 cristalino puro que caso caia ao
chão transforma-se numa despesa de vários milhões... Tudo para fixarem um novo
número de Avogadro... Por outro lado, estão a usar uma balança de Kibble para,
com o auxílio de efeitos quânticos, fixarem uma nova constante de Planck. Tudo
para, em conjunto, definirem - ou mais epicamente: redefinirem! - o valor de
quilograma para que este não dependa de algo físico...
Todo este esforço para eu pedir duzentos
gramas de queijo e ouvir «Pode ser duzentas e vinte?»... Camões haverá de estar
a dar voltas no caixão (esteja ele onde estiver, se ainda estiver) por este
povo não saber que grama é um substantivo masculino. Ainda por mais, ignoram
por completo este esforço quase hercúleo (ok, nem perto disso, mas é
efetivamente caro) além de ignorarem o erro associado à medida! E eu bem vi que
no LCD da balança aparecia duzentos e dezoito gramas!
Como é suposto eu continuar a viver
suportando isto!
Mas sim, pode ser isso...
E aqui estou eu a ignorar que as máquinas
devem estar mal taradas para que dessa forma eu pague mais...
É por estas e por outras que eu não compro queijo...
Abraão Esteves
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