domingo, 23 de julho de 2017

Fascínio Felino II

Dar Nome aos Gatos é um assunto complicado,
Não é um só um dos teus jogos de férias;
Podes pensar, a princípio, que sou tão maluco como um chapeleiro
Quando te digo, um gato tem de ter TRÊS NOMES DIFERENTES.
Primeiro que tudo, existe o nome que a família usa diariamente,
Como Peter, Augustus, Alonzo ou James,
Como Victor ou Jonathan, George ou Bill Bailey—
Todos eles nomes sensatos do dia-a-dia.
Existem nomes mais chiques se achas que soam mais doces,
Alguns para os senhores, outros para as senhoras:
Como Plato, Admetus, Electra, Demeter—
Mas todos eles nomes sensatos do dia-a-dia.
Mas digo-te, um gato precisa de um nome que é particular,
Um nome que é peculiar, e mais digno,
Ou então como é que ele mantém a sua cauda perpendicular,
Ou estende os seus bigodes, ou cuida do seu orgulho?
De nomes deste tipo, posso dar-te um quórum,
Como Munkustrap, Quaxo, ou Coricopat,
Como Bombalurina, ou então Jellylorum-
Nomes que nunca pertencem a mais de um gato.
Mas acima e para lá de tudo há ainda um último nome,
E esse é o nome que nunca hás de adivinhar;
O nome que nenhuma pesquisa humana pode descobrir—
Mas O PRÓPRIO GATO SABE, e nunca há de confessar.
Quando reparas num gato em meditação profunda,
A razão, digo-te, é sempre a mesma:
A sua mente está focada numa contemplação extática
Do pensamento, do pensamento, do pensamento do seu nome:
O seu inefável efável*
Efavinefável
Profundo e inescrutável Nome singular.

[Tradução livre (não quis tentar manter a rima… mas parece que saíram umas quantas à sorte) de “The Naming of Cats” de T. S. Eliot; *esta palavra, pelos vistos, não existe na nossa língua, mas é suposto ser o oposto de inefável (o oposto de indescritível, o tal oxímoro, portanto) e “criei-a” ali no poema por ser uma imagem mais próxima do original em inglês, e para depois a fusão das duas palavras ser semelhante ao original.]

É um poema engraçado não acham? E se repararem ele alude à história da Alice no País das Maravilhas, ao fazer, logo ao princípio, um trocadilho com a personagem do Chapeleiro Maluco. E claro, depois lembramo-nos do Gato de Cheshire dessa mesma história, e das suas caraterísticas enigmáticas. Parece existir um paralelismo entre a parte final do poema, a parte mais misteriosa, digamos assim, e esse gato do país das maravilhas. É um poema que é mais do que parece, apesar de ter sido escrito para crianças (inicialmente este poema fazia parte de um outro conjunto de poemas que ele escreveu para os seus afilhados, mas que depois acabou por publicar). Mas bem, ficamos por aqui, reflitam mais sobre o poema se não tiverem nada para fazer. 🐱

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