quarta-feira, 12 de abril de 2017

Pensamentos de um alguém

Sinto algo a emergir no espírito,
Algo tão leve
E misterioso.
Não reconheço este éter invasivo,
Energia fugaz
E turva.
Mas espera, a tépida sensação
Parece querer falar-me, discutir
E explicar a sua natureza.
Hesito, não sei o que esperar,
Algo que não consigo qualificar,
Algo não tangente, algo etéreo,
A querer falar comigo?
Como tal poderá ser possível?,
Pergunto-me.
Ela não fala como nós humanos,
Mas eu percebo-te na mesma,
Ele conta agora um mundo imaginário,
Cheio de maravilhas e dá ideia de ser isso mesmo,
Um imaginário utópico.
Duvido dele. Duvido dela.
O puro ser assegura-me de que é o caso,
Sem corpos nem limites materiais a bloquear
O nosso potencial, foi possível, diz ela,
Elevar o espírito sem restrições a um plano,
Digamos, celestial, isto é, o mais elevado.
Conta-me ele que foi um ser igual a mim,
Limitado materialmente pelo tangível,
Pelo quantitativo.
Ela ainda me conta acerca da eternidade do ser,
Criada pelas relações com outros espíritos.
Sim, diz ele, só com as relações entre seres podemos
Ser verdadeiramente livres, isto é, libertos da dimensão temporal.
O eterno nada é mais do que o prolongamento da memória,
Memória essa que tem de ser a coletiva, não a individual,
O indivíduo não é nada sem o outro, sem a relação com aquele
Que vive o seu tempo com ele.
Como te livraste das correntes então, tu que és um ser mágico?
De mágica nada tenho, diz-me ele,
Sou irreal para ti, mas não sou ilusão,
Garanto-te.
Quanto à tua pergunta tenho a dizer que não te posso ajudar, diz-me ela.
A voz fica cada vez mais frouxa com cada palavra não dita,
Pois eu não ouço a voz, mas sinto-a e percebo-a.
Como?, não sei.
As palavras quase que ecoam na mente, esmorecem.
Sinto-a a ir-se embora, mas eu não quero que fujas.
Mas tu és livre, mais livre do que eu aparentemente.
Mais livre que a natureza talvez, ou talvez sejas a personificação da
Natureza. Sim, aquilo que me disseste das relações, não há sítio terrestre
Onde encontremos mais relações do que na natureza. Ela é livre,
Assim como tu és livre.
Mas não faço eu parte da natureza? Se calhar não.
Talvez um dia tenha feito, porque houve uma altura em que me senti livre.
Fui secretamente expulso da natureza, não sou mais parte integrante desse
Imaginário utópico onde reina a liberdade.
É essa a questão? Deve ser essa a questão.
Como voltar para a natureza, só pode ser isso de que a voz falava,
Sim estou certo que sim. Mas não vale a pena, agora estou preso no mundo,
Acorrentado à vida. Espera, talvez seja isso! A morte!
Sim, a morte é a chave deste calabouço.
Não vale a pena ter medo, pois a morte faz parte da natureza, é a dualidade vida e morte
Que dá, talvez, possivelmente, sentido à existência. Um dos dois não tem significado, se      o outro
Não existir.
A vida justifica a morte, e a morte justifica a vida. Um é o outro, e vice-versa.
É isso que define o ciclo eterno existente na natureza. Para vivermos temos inevitavelmente de morrer, e para morrermos temos indiscutivelmente de viver.
Mas já não sei que pensar, a entidade desorientou-me de tal maneira que me deixou a pensar em coisas destas.
Não se faz.
Se ela me vier chatear de novo já lhe digo.

Sem comentários:

Enviar um comentário