quarta-feira, 5 de julho de 2017

Sobre a Linguagem

Wovon man nicht sprechen kann, darüber muss man schweigen.
(Tradução liberal: Daquilo que não conseguimos falar, temos de nos calar.)

É assim que acaba o livro de Wittgenstein e, na verdade, é todo o propósito do livro. O livro de que falo é Tractatus Logico-Philosophicus (pdf do livro - cliquem na hiperligação). Achei interessante porque sempre achei que a linguagem (sabem, aquela falada por nós) é, no fundo, incompreensível. Este senhor parece que também achava isso e, para ultrapassar o problema, tentou idealizar uma linguagem perfeitamente lógica, totalmente compreensível. Chegou à conclusão que tal linguagem só serviria para descrever e caraterizar aquilo que pode ser observado, isto é, objetos, digamos, reais.

Como grande parte da filosofia trata de coisas para lá desta dimensão objetiva, por exemplo a metafísica, esta linguagem que ele idealizou é inútil para mediar, simplificar e clarificar a maior parte dos problemas filosóficos. Porque, segundo ele, as questões filosóficas só são realmente questionáveis devido à natureza da linguagem. A linguagem não serve para clarificar estas questões nem para as compreender. Por isso ele acaba assim o livro, dizendo que o verdadeiro método para a filosofia é o de dizer nada, a não ser aquilo que pode ser dito - isto é, apenas factos, tudo aquilo que nada tem que ver com filosofia.

Parece que logo a seguir a ele ter escrito o livro e ter chegado a estas conclusões, Wittgenstein retirou-se do mundo da filosofia durante uma década, no qual não fez nada, nem escreveu nada, sobre tais assuntos. Depois lá voltou de novo para dar umas palestras na faculdade, e ao que parece tinha umas teorias novas sobre a linguagem. Vou ler a seguir o outro livro dele onde estão essas teorias. Mas anda tudo à volta do mesmo. Sobre o facto da linguagem ser algo incompreensível, a não ser para aqueles que sabem o seu significado. É aliás assim que ele começa o livro de que vos falei, dizendo que o livro é apenas compreensível para aqueles que já pensaram (isto é, que já sabem ou conhecem) os pensamentos e ideias descritos no livro. Portanto, para clarificar, só podemos compreender aquilo que já compreendemos. Compreendem?

Nota: O livro é algo difícil de se ler, mas, apesar de achar que compreendi uma pequeníssima percentagem do mesmo, achei uma leitura interessante. E têm em paralelo, nesse link que vos leva ao pdf, o original em alemão. É ótimo, porque assim parece que o objetivo do livro torna-se ainda mais claro - o de ser incompreensível.

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